segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Um chão para os simples

Escritor Manoel Onofre Júnior comenta sobre Chão dos Simples, adaptado para o teatro e fala dos espaços para a literatura

O jeito pausado de falar, a voz firme, compassada e medida denunciam um autor exigente com suas produções, ciente de seu papel enquanto escritor. Manoel Onofre Júnior prepara cada livro com um cuidado cada vez mais raro de se ver, principalmente naqueles que se lançam no mundo editorial sem o apuro necessário e a madureza exigida. Lançam por lançar; escrevem por escrever. Com Manoel Onofre, tudo tem sido medido de muito tempo, pensado, avaliado. 
Tem sido assim com suas produções, desde Ficcionistas do Rio Grande do Norte até Salvados ou, mais recentemente, os livros que retratam as andanças por diversos lugares, entre eles, o mais marcante em sua trajetória literária, Portão de Embarque - Portugal. 
Agora, Manoel Onofre Júnior publica, como uma forma de homenagem póstuma ao dramaturgo Lenício Queiroga, a obra Chão dos Simples (peça), inspirada em obra homônima. "Lenício Queiroga adaptou meu livro de contos para o teatro e apresentou a peça no Alberto Maranhão. Foi o diretor e também ator. Presto essa homenagem a ele, lançando a sua adaptação de meu trabalho. Infelizmente, Lenício Queiroga já não está entre nós para ver o trabalho publicado em livro", destaca Manoel Onofre.
Autor de vários livros, inclusive com grande contribuição para a história literária do Rio Grande do Norte, Manoel Onofre Júnior destaca que nunca se publicou tanto no Estado, mas acredita que os autores deveriam se preocupar não apenas com o que ele chama de "incremento editorial", mas "com um trabalho de incentivo ao próprio ato da leitura". "O número de leitores no Estado ainda é muito pequeno. Faltam políticas de incentivo oficial, para que os livros cheguem ainda mais aos leitores. Acredito que há vários outros fatores que dificultam isso, um deles têm relação com a própria formação cultural do povo brasileiro, muito voltado para os meios audiovisuais. Em toda casa há televisores, mas pouquíssimas têm bibliotecas ou livros", analisa.
Para ele, as feiras de livros ainda têm sido iniciativas válidas para levar a literatura aos leitores. "Mas precisamos aprimorar essas iniciativas... Trazer nomes que realmente 'sejam do ramo', como se diz na linguagem comercial", brinca.
Manoel Onofre aponta, em termos de produção literária, um dado interessante, principalmente no que diz respeito ao cenário editorial. Segundo ele, o ensaio literário e a poesia ocupam quantitativamente um espaço que não apresenta grandes diferenças. "O que nunca se desenvolveu muito bem na literatura potiguar foi o gênero ficção. Somente a partir da segunda metade do século XX vem sendo publicados com mais frequência livros de contos e romances", diz.

CHÃO DOS SIMPLES - O livro presta uma homenagem ao ator, diretor e dramaturgo Lenício Queiroga. "Ele também escreveu outras peças logo depois dessa. Foi uma figura que chegou a ter certa expressão nacional, com a peça Apareceu a Margarida, encenada em vários Estados brasileiros. Hoje, é um ator esquecido", destaca Manoel Onofre.
A peça estreou no Teatro Alberto Maranhão no dia 24 de julho de 1997, sob a direção de Lenício Queiroga. No elenco, Carminha Dantas, Genildo Mateus, Pinto Montinelly, Lenício Queiroga, Letícia Oliveira e participação especial de Eliene Albuquerque. 


'Eles colocam nosso livro na última estante'

Não é apenas na capital do Estado que a resistência das livrarias em colocar livros de autores locais em suas prateleiras é identificada. Em Mossoró e em outras cidades, o escritor "anda muito" para vender seu trabalho. "Faltam leitores para que nossos escritores sejam realmente consagrados. É preciso existir um mercado para que os livros circulem... No RN, especialmente em Natal, há uma má vontade dos livreiros em relação aos autores locais, com raras exceções. No geral, as edições são subestimadas. Além disso, alguns livreiros colocam empecilhos durante a comercialização das obras", critica o autor.
A prática, muito comum no Estado, tem sido duramente combatida pelos autores. Alguns chegaram a recolher todos os livros dos estabelecimentos que menosprezam a literatura potiguar. "Eles colocam nosso livro na última estante, na menos visível... Fazem exigências burocráticas descabidas e não expõem o livro na vitrine. O que eles expõem são essas obras que não têm nenhuma ligação com nossa realidade. Elas são empurradas pelas multinacionais do livro, principalmente as editoras dos Estados Unidos e de outros países economicamente mais fortes. O livro, assim, deixa de ser uma questão cultural para ser um problema da indústria", diz.
Para ele, resta ao escritor potiguar fazer "um caminho diferente". "Os escritores jovens, por exemplo, vêm encontrando meios de driblar e superar todos esses entraves", fala. 

O AUTOR - Manoel Onofre Júnior nasceu a 20 de julho de 1943, em Santana do Matos - RN. Diplomou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Natal, em 1967.
Foi professor de História, repórter e assessor jurídico. Ingressou na magistratura em 1970. Em 1989 foi promovido ao cargo de desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte.
É autor de Chão dos Simples, Ficcionistas do Rio Grande do Norte, Guia da Cidade do Natal, O Chamado das Letras, A Palavra e o Tempo, Espírito de Clã, Portão de Embarque - Portugal, dentre outros.
Manoel Onofre Júnior é membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e da Academia Norte-rio-grandense de Letras.
Seu próximo livro, Alguma Prata da Casa é constituído de pequenos ensaios sobre autores e aspectos da literatura potiguar. Deve ser lançado pelo selo de uma editora nova, criada pela União Brasileira de Escritores (UBE-RN). 



Fonte: Portal Gazeta do Oeste

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