segunda-feira, 20 de junho de 2022

O Trem de Nova Cruz-RN. Trecho Natal/Nova Cruz: A primeira linha de trem do RN

Trajeto da linha do trem contornando a cidade

Para ligar a capital pernambucana à capital potiguar por via férrea, em qualquer época o percurso seria o mais óbvio, seguir em paralelo ao oceano atlântico como faz hoje a BR 101. Principalmente porque passaria também por importantes cidades próximas ao litoral (a exemplos de Goiana (PE), Paraíba (atual João Pessoa (PB), Mamanguape (PB), etc.) que no início do século 18, já tinham a sua importância, tanto econômica quanto política.


Porém, o que se viu foi um desvio considerável para margear, não o oceano atlântico e sim a parte leste do Planalto da Borborema, onde em cima da grande parede de rocha tinha apenas duas cidades emergentes (Areia e Bananeiras). E por ficarem em cima da serra o trem passaria bem longe, sendo o seu principal trajeto pela Vila da Independência (atual Guarabira). Mais de 30 anos depois foi feito dois pequenos ramais: um até a cidade de Alagoa Grande (PB), não foi possível ir até a cidade de Areia e o outro ramal seguindo até a cidade de Bananeiras por túnel feito sob a serra.


Mas, se olhar por outro ângulo, a partir dali poderia ser prolongado ao extremo oeste para a conquista dos sertões, o que ficou evidente com o entroncamento ferroviário na cidade de Itabaiana(PB). Além disso o brejo na parte leste da chapada, contemplada com os ventos alísios que deixa o seu terreno sempre úmido, era e sempre foi, lugar de grandes atividades agropecuárias e também de variadas e valorosas especiarias.


A pequena Urtigal (Vila de Nova Cruz) que por pura sorte se encontrava no caminho de entrada e limite entre as províncias da PB e RN foi beneficiada pela rota de passagem do trem nos seus limites. E por ser a última estação de saída do RN e primeira de entrada para a PB, essa mesma estação era a segunda maior da província do RN, perdia apenas para de Natal. A estação da Vila de Nova Cruz serviria também de armazém para acúmulo de mercadorias entre uma região e outra. Em seu destino a Natal o trem passava pelas localidade de: Cuitezeiras (antiga Vila Nova, atual Pedro Velho e onde também foi construída a primeira ponte de ferro no RN, sobre o rio curimataú), Gramació (Vila da Penha e atual Canguaretama), Vila de Goianinha e Paparí (atual Nísia Floresta). A partir de então a Vila de Nova Cruz cresceu e se desenvolveu pelos benefícios oriundos desse tráfego férreo e que veio ao colapso a partir da década de 1980, com a desativação do ramal que passava pela cidade obrigando o município a diversificar a sua economia através de outros meios.


Há vários estudos sobre a viabilidade de reativar vários ramais da antiga linha, alguns já reconstruídos e revitalizados (muitos apenas para transporte de minérios) reativando aqueles bons e velhos tempos. Porém, enquanto não vem a revitalização a antiga estação funciona como casa da cultura e a população local sonha com a possibilidade de algum dia ser reativado o trem que tantos sonhos trouxe ao município.

Texto: Claudianor Dantas




Imagem: Blog:santoantoniooficial




Histórico


Em 27 de Fevereiro de 1880, inaugurou-se as obras de construção da estrada de ferro de Natal a Nova Cruz, no estado do Rio Grande do Norte.

Em 31 de Dezembro de 1882 foi inaugurado o tráfego de toda a linha, com 121 quilômetros de extensão.

A bitola desta linha é de um metro, a declividade máxima de 0m,025 e o raio mínimo de 110 metros. O seu custo foi de 7.110:000$000.

Esta linha está arrendada à Companhia Great Western Railway, que a prolongou para Independência (atual Guarabira), na Paraíba, sendo inaugurado o tráfego desse prolongamento com a extensão de 50,197 quilómetros em 1º de Janeiro de 1904.

A extensão da linha de Natal a Independência é de 171,197 quilómetros.

 

Fonte: vfco.brazilia

 

Os primeiros trilhos em terras potiguares

 

A província do Rio Grande do Norte iria conhecer o real significado da palavra progresso no século XIX, com a implantação da primeira estrada de ferro do RN. Apesar de ter sido autorizada em 1873, a ferrovia só começou a ser construída anos mais tarde, em 1878. Os trilhos que partiriam rumo à Zona Agreste do estado começaram a ser erguidos em um local conhecido à época como Nau de Refoles, hoje Passo da Pátria. A coordenação da obra ficou a cargo do engenheiro Jason Rigbi.

Servindo como transporte de cargas e meio de locomoção para as comunidades vizinhas, a estrada de ferro trouxe mudanças significativas para o modo de vida provinciano potiguar. Inaugurados em 1881, o primeiro trecho ferroviário (Natal/Nova Cruz) e a Estação Central de Natal (localizada na Praça Augusto Severo, bairro da Ribeira) apresentaram o sentido da palavra mobilidade aos moradores da região. Anos mais tarde, em 1901, o trecho Natal/Nova Cruz seria arrendado pela "The Great Western of Brazil Railway Company", como aconteceu com outras estradas de ferro pelo país.

Se antes a população percorria grandes distâncias utilizando tração animal, a empresa tornou possível cruzar os Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco utilizando a ferrovia. Graças à construção da via férrea que ligava Nova Cruz à Independência (PB). A "Great Western" teve um papel fundamental para o desenvolvimento do comércio e das indústrias locais à época.

 

Fonte: CBTU

 

HISTORICO DA LINHA: A linha que originalmente unia a estação do Brum, no Recife, a Pureza, próximo à divisa entre Pernambuco e Paraíba, foi aberta de 1881 a 1883 pela Great Western do Brasil, empresa inglesa que tinha a posse e a concessão da E. F. Recife ao Limoeiro. Esta linha avançou até Pilar, na antiga E. F. Conde D'Eu, incorporada à GW em 1901, onde sua linha, aberta em 1883, entre outros ramais, avançava até Nova Cruz, já no Rio Grande do Norte e da E. F. Natal a Nova Cruz, que também passou à GW, na mesma época. Para ligar estas duas últimas, a GW construiu em 1904 um trecho de 45 km, formando então o que veio a ser chamado de Linha Norte. Quando ocorreu a venda da GW para a Rede Ferroviária do Nordeste, no entanto, o trecho do RN já não mais pertencia à GW, mas foi incorporado à RFN, e em 1957 tudo isso foi uma das formadoras da RFFSA. A linha está ativa até hoje sob o controle da CFN, que obteve a concessão da malha Nordeste em 1996, mas trens de passageiros não circulam mais por essa linha desde os anos 1980.

 

A ESTAÇÃO: A estação de Nova Cruz foi inaugurada em 1883.

 


Fonte: estações ferroviárias

A partir de 1904 passou a ser o entroncamento das linhas da E. F. Natal a Nova Cruz com a E. F. Conde D´Eu. Com o tempo (1901) tudo isso passou a ser administrado pela Great Western do Brasil.

Em 1939 houve a separação da administração da linha potiguar, que passou a ser administrada pela E. F. Central do RN, da GWB.

Em 1950, com a formação da Rede Ferroviária do Nordeste no lugar da GWB, e sua absorção pela RFFSA como uma das subsidiárias, a RFN passou a controlar tudo de novo - embora o nome da EFCRN - agora E. F. Sampaio Correia - tivesse sido mantido por alguns anos.

A antiga estação, já desativada, não estava mais abandonada em 2015. Adquirida pela Prefeitura Municipal, foi doada ao Governo do Estado do Rio Grande do Norte, que a transformou na Casa da Cultura Lauro Arruda Câmara. Ela fora totalmente recuperada por técnicos da Fundação José Augusto, com orientação do Patrimonio Histórico, preservando-se suas linhas arquitetônicas. É um monumento da história do transporte ferroviário de passageiros do nordeste, infelizmente desativado. Nova Cruz, por muitos anos, foi o elo de ligação entre Natal e o Recife.

 

Fonte: estacoesferroviarias.com


1876: O início da história do Ramal de Nova Cruz, de Natal a essa cidade (A Provincia de S. Paulo, 12/4/1876).

 


ACIMA: Pelo jeito, no tempo da E. F. Natal a Nova Cruz ainda sem ser da Great Western, a safra era primordial para uma ferrovia e local pobres. Daí colocarem para atender passageiros nesse período trens mistos. Seriam eles adicionais aos trens comuns de passageiros ou estes haviam sido suspensos para favorecer o tráfego durante a safra? (Jornal Rio Grande do Norte, 2/9/1891).

 

(Fontes: Leonardo Arruda Câmara; Ilvaíta Maria Costa; Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960; Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, IBGE, 1959)