sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Eólica RN: ABEEólica teme veto à MP 1304 e alerta para impacto no RN

 

                                      Aerogeradores de energia eólica em São Miguel do Gostoso (RN).Foto: Felipe Gibson/G1


Maior produtor de energia eólica do Brasil, o Rio Grande do Norte acompanha com preocupação o desfecho da Medida Provisória 1.304/2025, que aguarda sanção presidencial e redefine pontos centrais do setor elétrico. O Estado responde por cerca de 30% da geração eólica nacional e é considerado um dos principais polos de investimentos em energia renovável do país. Em coletiva realizada nesta sexta-feira (14), representantes da indústria afirmaram que um eventual veto ao artigo 1A — dispositivo que estabelece as diretrizes de ressarcimento pelos cortes de geração (curtailment) — colocaria o setor em risco e aprofundaria os impactos já sentidos no RN.

A preocupação ganhou força após a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Gannoum, afirmar ter ouvido “ruídos” de que o dispositivo poderia ser vetado. Segundo ela, sem o artigo 1A o setor não terá condições de absorver as perdas acumuladas com os cortes de geração. “A indústria de energia renovável, eólica e solar, não vai suportar o fato de a gente não trazer uma solução para o curtailment. A solução está na MP. Nós ouvimos um ruído de que o presidente vetaria o artigo 1A, e sem esse dispositivo a indústria não vai suportar”, declarou.

A fala foi reforçada por fabricantes e investidores presentes na coletiva. Elbia lembrou que os projetos do setor são de longo prazo — com investimentos estruturados para 10 a 15 anos — e que a retirada do dispositivo comprometeria a previsibilidade necessária para novos aportes.

Durante a coletiva, Francisco Silva, diretor técnico regulatório da ABEEólica, detalhou os números relacionados ao mecanismo de compensação. Segundo ele, hoje existe um valor de R$ 3,8 bilhões registrado na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) como montante devido pelos geradores. Por outro lado, o prejuízo acumulado com cortes de geração chega a R$ 2,8 bilhões, que seria o valor a ser ressarcido aos empreendimentos. O encontro de contas deixaria R$ 1 bilhão de saldo na CCEE.

De acordo com a explicação, esse valor final evitaria repasse às tarifas no próximo ano.

 

Narrativa “equivocada” sobre impacto ao consumidor

Elbia classificou como equivocada a narrativa de que a MP criaria uma “conta de R$ 7 bilhões” aos consumidores. Segundo ela, o valor real é de R$ 2,8 bilhões — e não seria repassado às tarifas porque seria absorvido pela conta de ressarcimento da CCEE. “Não é verdade que o consumidor vai pagar uma conta de R$ 7 bilhões. É uma conta de R$ 2,8 bi, e não vai para a tarifa”, disse.

A presidente da ABEEólica alertou ainda que a retirada do artigo 1A inviabilizaria o setor. Segundo ela, isso afetaria diretamente regiões onde a energia renovável é mais presente, especialmente no Nordeste, que concentra a maior parte dos investimentos.

“Sem o dispositivo 1A, a indústria de renováveis brasileira vai falir. Toda a discussão que estamos fazendo sobre um país comprometido com a transição energética perde sentido. Estou falando aqui também para uma enviada especial do governo: meu papel é engajar o setor privado, trazer investimento e fazer esse país crescer. Mas isso é impossível sem um sinal regulatório adequado — não podemos colocar sobre os investidores custos que não são cabíveis. Que sinal estamos dando ao investidor que chega ao Brasil querendo ajudar essa economia a crescer e contribuir para que o país lidere a transição energética?”, questionou.

Expectativa pela sanção

A MP 1304 estabelece limites para os recursos arrecadados para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e propõe a contratação de usinas hidrelétricas de até 50 MW. Além disso, a medida define condições para o acesso e comercialização do gás natural da União, buscando melhorar a eficiência e reduzir custos no setor.

O setor aguarda a decisão final da Presidência da República nos próximos dias e defende que o texto seja sancionado integralmente para garantir segurança jurídica e evitar perdas para estados líderes em energia renovável, como o RN.



Fonte: Tribuna do Norte

Fonte da imagem: Aerogeradores de energia eólica em São Miguel do Gostoso (RN). — Foto: Felipe Gibson/G1