Com mais inscritos que a própria Fuvest, o evento reunirá professores e alunos do ensino
básico para a prova fina
Clara Roman
Com público que varia entre moradores de metrópoles como São Paulo até cidadezinhas fronteiriças, a fase final da 3ª Olimpíada Nacional em História do Brasil ocorrerá neste fim de semana na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Única do gênero do país, a competição atrai professores e alunos do 8º e 9º ano do Ensino Fundamental e dos três anos do Ensino Médio.
Olímpiadas acadêmicas são já tradicionais nas áreas de exatas – a Olímpiada de Matemática, por exemplo, existe há mais de 30 anos. Na área de humanas, no entanto, a Olimpíada de História do Brasil foi uma novidade. Apesar de nova, a competição teve mais de 65 mil inscritos em 2011, superando números da própria Fuvest e que apontam para uma forte demanda dos professores para esse tipo de prova.
Dos inscritos, 1200 foram selecionados para participar da última fase ao longo de 4 testes realizados pela internet desde o dia 15 de agosto. A prova final será no sábado 15 é a única dissertativa e presencial e definirá quem será premiado no domingo 16. Ao contrário de outra provas, a Olímpiada envolve equipes com um professor e três alunos e todas as fases exigem o diálogo entre as partes, o que, segundo Cristina Meneguello, coordenadora do evento, promove também a valorização do professor. Ela conta que, ao serem premiados, a primeira atitude dos alunos é correr para abraçar seus professores.
A Olímpiada é organizada pelo Museu Exploratório de Ciências, ligado ao departamento de história da Unicamp e responsável pela extensão universitária – setor que realiza o vínculo da academia com a sociedade. Meneguello, presidente do Museu, afirma que o evento tem o intuito de envolver docentes e discentes em um processo de aprendizado ao longo dos dois meses de duração do concurso. Para isso, são disponibilizados textos e mesmo documentos originais de história no site – para os participantes terem um gostinho do que é ser historiador, segundo Gabriela Vilen, jornalista e organizadora.
No primeiro ano, foram 16 mil participantes. No segundo, 42 mil. Agora, 65. “Tinha uma demanda represada de Olimpíada nas áreas humanas. História se você estudar, se informar, você tem chance de ir muito bem. É um Olimpíada muito convidativa”, comenta Meneguello, que também é historiadora e professora na Unicamp. Ela diz ter tido uma grande surpresa quando percebeu que o alcance da prova era muito grande em rincões do interior do país, fora do eixo do sudeste. Cruzeiro do Sul, no Acre, a 4000 km de Campinas e a pouco mais de 120 km da fronteira com Peru, levará duas equipes para a prova do fim de semana. Bicas, no interior de Minas Gerais e com 13 mil habitantes, levará 4. “ A gente até aprende geografia na marra”, brinca Meneguello, que ano passado teve de pesquisar no mapa a localização de Almas, cidade de 2 mil habitantes no Tocantins e que levou uma equipe à final.
A inscrição tem um custo de 4 reais para escolas públicas e 8 particulares. O dinheiro ajuda a bancar custos de estrutura que não são mantidos apenas com a verba do Ministério da Ciência e Tecnologia.
A Olimpíada, segundo Meneguello, também tem o objetivo de corrigir uma falha no diálogo entre academia e escola. Para a coordenadora, a Universidade se encastelou e não consegue mais transmitir o que estuda. Isso contribui para que o ensino de história se mantenha estático, mesmo com as descobertas das pesquisas acadêmicas. “A academia desaprendeu a falar com o ensino. Fica uma conversa muito longínqua”, diz ela.
Por isso, a organização procura selecionar temas às vezes desconhecidos pelo público escolar, ou trazer novas abordagens e documentos dos assuntos mais batidos. “A intenção é dar uma agitada na história parada dos livros didáticos”, comenta.
Fonte: Carta Capital
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