sexta-feira, 6 de abril de 2012

Xingu, dos irmãos Villas Bôas estreia hoje(6)

 Cena de "Xingu", filme dirigido por Cao Hamburger que estreia nesta sexta

"No Xingu, nada é por acaso." O lema dos irmãos Villas Bôas, desbravadores do Brasil central na década de 1940 e idealizadores do Parque do Xingu, foi herdado pela equipe que decidiu contar sua história nos cinemas.

"Não existia coincidência nas filmagens de 'Xingu'", diz o diretor, Cao Hamburger, que volta a um longa após sete anos de hiato desde "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias". "Se não podia filmar no lugar escolhido, ia para outro. E acabava sendo mais bonito que o original."

Mas a mudança de locação nos dez meses de filmagens no Tocantins e no Parque do Xingu foi a menor das dificuldades. "O cerrado brasileiro queima por nove meses", conta Caio Blat, que vive o mais afoito dos irmãos expedicionários, Leonardo. "A caminhonete da nossa equipe passou por estradas que tinham paredes de fogo por causa das queimadas dos fazendeiros."
"É uma catástrofe", diz Felipe Camargo, dono do papel do aventureiro mais experiente, Orlando. "Perto de Palmas, o dono do hotel em que estávamos precisava limpar a piscina sempre. A camada de fuligem era constante."

A fumaça dos incêndios -naturais e provocados- no Centro-Oeste brasileiro perseguiu a equipe até a reserva do Xingu, no Mato Grosso.

Quando foram filmar com as tribos, em 2011, os atores e os técnicos viajaram divididos em dois aviões com 20 pessoas cada um, mas apenas um deles conseguiu pousar. "O campo de visão era mínimo. O avião tentava aterrissar no meio da fuligem, mas, quando o piloto via algo, já estava muito perto das árvores", lembra Blat.

Metade do time chegou três dias depois. "Filmando sem som nem maquiagem."

"É um filme de guerra, não só pelos personagens, que são heróis repletos de falhas, mas pelas condições climáticas", resume Camargo. "Isso serviu para nos ajudar a viver os Villas Bôas", fala João Miguel, intérprete do irmão mais idealista, Claudio.

Mas "Xingu" teve momentos mais tensos. Em 2010, um avião com dois membros da equipe e um piloto caiu em Palmas. "Todos ficaram bem. Guilherme Ramalho, diretor de cenas aéreas, saiu do avião querendo entrar no outro para filmar", brinca o diretor.

Um carro de alimentação virou na estrada e só foi encontrado 24 horas depois. Outra vez, nenhum ferido.

SKYPE NA TRIBO

Cao Hamburger começou o trabalho exaustivo de pesquisa em 2007 e logo passou dez dias no Xingu. João Miguel ficou oito dias com os índios, e Caio Blat deixou o filho recém-nascido no Rio.

"Foi a parte dura. Mas, quando cheguei ao Xingu, tive uma surpresa: os índios tinham Skype [programa de comunição com vídeo via internet] na oca", conta o ator.

Os índios do Xingu ficaram desconfiados com os "estrangeiros". "Tinha de convencê-los de que o filme mostraria o ponto de vista deles", fala o cineasta, que quer voltar à região para novo longa sobre indígenas nunca contatados.

O desafio agora é fazer o público comprar a ideia de "Xingu", superprodução de R$ 14 milhões, com tema sem precedentes de grande sucesso no país. "Brasileiro não gosta de índio. É chocante perceber isso até entre meus amigos", diz Hamburger. "Mas a base de 'Avatar' é a cultura indígena brasileira. Cameron veio para cá, tomou algo e fez aquele filme."


Fonte: Folha.Com

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