Os oceanos e as florestas absorvem CO2, mas não dão conta do excesso lançado por chaminés, como estas de uma usina termelétrica na Inglaterra
O relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) foi apresentado durante a 17ª Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas
Nos últimos 13 anos, o mundo viveu os dias mais quentes registrados em uma década e meia, segundo Organização Meteorológica Mundial (OMM), que é vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), com base em dados colhidos desde 1997.
De acordo com especialistas, o aumento das temperaturas no planeta foi causado pelo aquecimento global que ameaça ilhas, zonas costeiras, populações e colheitas."A nossa ciência é sólida e prova inequivocamente que o mundo está aquecendo e que esse aquecimento resulta das atividades humanas", disse o secretário-geral da OMM, Michel Jarraud."As concentrações de gases de efeito de estufa na atmosfera apresentam novos números e um aumento médio de 2 a 2,4 graus centígrados nas temperaturas globais."
Mas o ano de 2011 é considerado o décimo ano mais quente desde 1850 - data em que começaram a ser registadas medições científicas das temperaturas. Pela análise, o período 2002 a 2011 pode ser comparado ao de 2001 a 2010 como a década mais quente desde 1850.
O relatório foi apresentado durante a 17ª Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, em Durban, na África do Sul. De acordo com o documento, a temperatura média da última década (2002 a 2011) foi superior em 0,46 grau centígrados.
Os cientistas, no relatório, analisam ainda que fenômenos, como o La Niña e o El Niño, resultam do aquecimento global. Às vésperas da conferência em Durban, uma tempestade foi registrada na região causando seis mortes e vários feridos, destruindo casas e deixando desabrigados.
COP 17 reúne 193 nações para discutir sobre o clima
Um dos principais desafios do evento que começa hoje (28) é estabelecer um segundo período para o protocolo de Kyoto
A 17ª Conferência das Partes, chamada de COP 17, começou dia 28/11 e vai até o dia 9 de dezembro em Durban, na África do Sul. O evento reunirá representantes dos 193 estados membros da ONU para debater o clima.
Nas últimas duas edições da COP, em Copenhague (COP 15) e em Cancun (COP 16), um acordo global para a redução de emissão de gases de efeito estufa esteve próximo, mas acabou não ocorrendo. O grande desafio da COP 17 é buscar este acordo, com metas definidas para todos os países. O consenso é difícil, pois envolve mudanças políticas e econômicas nos países.
Espera-se que a COP 17 traga uma definição oficial sobre o protocolo de Kyoto, que termina em 2012. Só os países europeus se mantiveram firmes em manter suas metas de diminuição de poluentes. Estados Unidos e China, que juntos são responsáveis por 40% das emissões de gás carbônico do planeta, nem assinaram o documento.
Outra discussão importante do evento será a participação dos países pobres na diminuição de poluentes na atmosfera. Até então, estes países mantiveram-se à parte e recusam-se a participar do jogo de redução de emissão de poluentes.
Economista do Ipea comenta os desafios da COP 17
Workshop é preparativo para a conferência sobre o clima que será realizada em Durban, na África do Sul
Ronaldo Seroa da Motta, economista e professor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
Daqui a 18 dias, representantes de mais de 190 países vão se reunir para a 17ª edição da Conferência das Partes (COP17) sobre Mudanças Climáticas. Um workshop preparativo para esse evento foi realizado ontem (8), em São Paulo, conduzido pelo economista e pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Ronaldo Seroa da Motta.
No workshop "O que esperar e o que não esperar da COP17", Motta traçou um retrato deste imenso jogo de xadrez, que envolve os mais diversos interesses. O evento foi promovido pelo Planeta Sustentável, projeto da Editora Abril, em parceria com o Fórum Clima (do Instituto Ethos), Empresas pelo Clima (do GVces - Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas), a CNI (Confederação Nacional das Indústrias) e o Cebds (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável).
De acordo com o economista, o que têm impedido o tão sonhado acordo global de se concretizar são os grandes interesses econômicos das nações, que podem sofrer graves efeitos em sua economia se deixarem de poluir. “Muitos perderão mais cooperando com algum acordo. A economia da China, por exemplo, será muito afetada caso elas deixem de poluir.A falta de soluções tecnológicas os mantém à espera. E enquanto isso eles continuam poluindo.”
A busca por estas soluções tecnológicas é uma das grandes discussões da reunião em Durbain. Há muita expectativa sobre o futuro do protocolo de Kyoto, soluções para os créditos de carbono e o tão falado Fundo Verde, que promete levar recursos e tecnologia aos os países em desenvolvimento. Tudo isto sob o fantasma da crise econômica.
Protocolo de Kyoto
O famoso protocolo de Kyoto pode ter seus momentos finais na COP 17. Algumas nações não o cumpriram, outras como os Estados Unidos e a China nem o assinaram. “Só a Europa cumpriu o protocolo, acredito que há uma grande chance de Kyoto morrer. Neste cenário, alguns acreditam em grandes mudanças em meio ao caos, já outros pensam que este será o fim de qualquer iniciativa de estabelecer um plano global para a redução da emissão de poluentes”, disse o economista.
Por outro lado, a chance de Kyoto encontra-se nos países em desenvolvimento, que se recusam a ceder as metas futuras, que seriam próximas dos países desenvolvidos. “Estima-se que se esses países não sofrerem nenhuma restrição energética nos próximos 30 anos eles poderão chegar a um patamar econômico próximo ao dos países desenvolvidos.”
Esta discussão da partilha das metas entre os países desenvolvidos e dos em desenvolvimento permeia todos os principais pontos que prometem esquentar a COP 17. O debate sobre qual o papel e metas dos que estes países desempenharão são de grande valia para a sobrevivência do protocolo.
Fundo Verde
Tida como uma grande solução para acelerar o desenvolvimento tecnológico, o Fundo Verde, estabelecido durante a COP 16, vive uma espera incerta, comenta Motta. A idéia é a de que o banco seja de responsabilidade da ONU, tenha o Banco mundial como tesoureiro nos primeiros três anos e seja administrado igualmente por 24 países, divididos entre ricos e pobres.
O programa pretende funcionar da seguinte forma: seriam distribuídos US$ 30 bilhões de 2010 a 2012 para ajudar a financiar a redução de emissão de gases do efeito estufa e ajudar os países que precisam se adaptar às mudanças climáticas. Os países desenvolvidos teriam o compromisso de doar US$ 100 milhões todos os anos até 2020.O grande desafio para o Fundo Verde é a aceitação em meio a crise econômica mundial, que poderá impedir alguns países de se manterem nesta ação.
Créditos de carbono
Outro desafio da COP 17 é acertar um acordo em relação à tributação de carbono. “ A criação de um mercado é a melhor opção, criando recursos entre agentes e não entre governos. A administração das cotas nacionais será mais simples do que aplicar taxas sobre a emissão. Com o atual modelo, o preço se torna volátil, gerando incertezas nos investimentos”.
A crise econômica também afetou o mercado do carbono, que está estagnado em aproximadamente US$ 140 bilhões em 2010. Os créditos gerados a partir de desenvolvimento limpo caíram de US$ 2,7 bilhões em 2009 para US$ 1,5 bilhões em 2010.
Brasil estratégico
O papel do Brasil neste novo plano global é justamente mediar as relações entre Índia e China, campeãs de poluição, os Estados Unidos e a Europa. Como foi um dos únicos países a assumir publicamente o compromisso da COP 15, com diminuição de emissões em 38% por ano, o Brasil será de fundamental importância nesse cenário. “Desde 92, os princípios comuns entre o Brasil e os países emergentes fizeram que esta aliança durasse. Neste jogo econômico, o Brasil só tem a ganhar.”
Esta posição de mediador deverá ser ainda mais intensa nas próximas negociações, principalmente entre as potências China e Estados Unidos.“É como em um jogo de pôquer, todos esperam o próximo mostrar as cartas. Os Estados Unidos não vão ajudar a financiar estudos tecnológicos para que a China deixe de poluir, da mesma maneira que os chineses não vão diminuir sua produção em nome da segurança da economia americana”, disse Motta.
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