quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A indústria têxtil não deverá contratar este ano no Rio Grande do Norte.



A indústria têxtil e de confecções praticamente não deverá contratar este ano no Rio Grande do Norte, embora o segundo semestre seja conhecido como período típico de captação de mão-de-obra para reforçar a produção, com vistas no final do ano, a época mais aquecida para o consumo. A concorrência com o produto importado de países como China e Índia - com preços mais baixos - é apontada pelo setor como causa para o momento de crise que, segundo o Sindicato da Indústria do Vestuário no Estado (Sindvest/RN), já foi responsável pela demissão de quase 3 mil trabalhadores. O número representa 17,64% da força de trabalho que havia no setor até dezembro de 2010, um contingente estimado em 17 mil pessoas.
ana silvaDados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego mostram que os costureiros foram os principais alvos dos cortes até junho

O setor têxtil e de confecções foi, dentro da indústria de transformação, o que mais demitiu este ano, no Rio Grande do Norte. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, entre janeiro e junho os "cortes" atingiram principalmente os trabalhadores que ocupavam funções de costureiros a máquina, na confecção em série. Ao todo, de acordo com dados do Ministério do Trabalho, 1.528 pessoas que desempenhavam a  função perderam o emprego, um baque que só não foi maior que o sofrido no setor agropecuário, por trabalhadores na cultura de cana de açúcar e no cultivo de espécies frutíferas rasteiras, como é o caso do melão. 

De acordo com o Caged, o número de trabalhadores demitidos a mais do que contratados chegou a 1.958  nas indústrias do setor, incluindo na lista outras funções, além dos costureiros. O total, entretanto, é maior, diz a presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Confecções do RN (Sindconfecções), Maria dos Navegantes dos Santos da Silva. Ela explica que o levantamento do Ministério não engloba trabalhadores como carregadores, assistentes, supervisores e até médicos e engenheiros que congregam a indústria de vestuário. 

Mais cortes

Somente  ontem, o Sindicato homologou outros 60 casos de demissão. De janeiro  a junho, houve mais 2.829. Desse total, 2.214 por funcionários da Guararapes e 168 da Coteminas, segundo o Sindicato. Segundo o levantamento, cerca de 1,6 mil  trabalhadores, das unidades de Macaíba e de São Gonçalo do Amarante, da Coteminas, estão em férias coletivas.

A expectativa,  explica  Marinho Herculano de Carvalho, presidente do Sindvest, é que ocorra uma desaceleração  no mercado, em relação ao segundo semestre do ano passado, quando a indústria de vestuário recebeu um incremento de 25%. Ele, entretanto, não estima a quanto chegará a redução. "A crise financeira não exerce grande impacto sobre o vestuário. Nosso principal problema é a entrada do produto importado, que usa mão-de-obra barata e não sofre com a carga tributária brasileira", avalia. 

Mais demissões são esperadas  em 2011, mas em menor proporção. O crescimento nas contratações será tímido. "Uma ou outra empresa, de pequeno ou médio porte, poderá ainda contratar para preencher as vagas abertas no primeiro semestre e poder garantir a demanda para o final do ano", afirma. 

A alta no preço da matéria-prima - o algodão - também chegou a  ser apontada este ano como razão para a desaceleração da atividade nos dois setores.

Sindicato dos trabalhadores do setor cobra explicações

Para Maria dos Navegantes, não há justificativa para os cortes de pessoal nesse período. Em geral, os cortes ocorrem até março. "A economia interna do país está aquecida, o que garante a manutenção sustentável dos postos de trabalho. Precisamos de uma explicação dos empregadores", disse. Entre os costureiros que assinavam a homologação da dispensa de trabalho, no Sindconfecções ontem, havia medo de represálias e ninguém quis comentar a saída ou mesmo ser fotografado.

O presidente do Sindicato da Indústria Têxtil do RN e diretor da Coteminas, João Lima, avalia que o setor passa por crise, mas em proporção menor que a enfrentada pelo setor de confecções, que está na ponta da cadeia. No caso da indústria têxtil, as dificuldades são reflexo da crise financeira no exterior. "A expectativa é que a indústria têxtil, bem como todo o setor de manufaturados melhore com o incremento de mercado no final do ano, bem como com o plano lançado pelo governo federal", afirma. João Lima preferiu não comentar sobre os casos de demissões e férias coletivas ocorridos na Coteminas, alegando se tratar de empresa de sociedade aberta.

A reportagem tentou contato com a direção da Coteminas, em São Paulo, mas até o fechamento da edição, não houve retorno sobre o pedido de informações, encaminhado por e-mail. A reportagem tentou ainda contato com a Guararapes, mas foi informada que não poderia ser atendida no dia de ontem.

Cerca de 80% dos costureiros saíram sem justa causa

Entre as 20 ocupações com menor saldo de emprego - ou seja, com o número de demissões acima do de contratações - quatro são da indústria têxtil e de confecções, no RN. Além do saldo negativo, as funções têm em comum salários médios de admissão abaixo do salário mínimo. Os valores variam  de R$ 413,20 a R$ 543,46, de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego. Os dados também mostram que mais de 80% dos costureiros foram dispensados no período sem justa causa. A área foi a que mais sofreu o baque.

No levantamento do ministério também aparecem entre as funções que tiveram dispensa: Técnico de planejamento de produção, operador de bobinadeira, inspetor de qualidade, faxineiro, mecânico de manutenção de máquinas, encarregado de costura na confecção do vestuário, apontador de produção, modelista de roupas, estampador de tecido, tecelões, operador de empilhadeira, trabalhador de serviços de manutenção de edifícios e logradouros, mecânico de manutenção de máquinas têxteis, operador de máquinas fixas e operador de filatório.  

Fonte: Tribuna do Norte

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