terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Olinda é mais deslumbrante de que Paris, diz artista plástica

Ressaltando a influência árabe nas treliças, Tereza Costa Rêgo contempla Olinda da janela de casa (Foto: Roberta Rêgo / G1)

Tereza Costa Rêgo é artista plástica e nasceu no Recife há 82 anos. Depois de morar em várias partes do mundo, em 1979 escolheu viver em Olinda, cidade histórica localizada na Região Metropolitana. “Moro aqui com mais deslumbramento do que morava em Paris”, afirma. E é na condição de “namorada” do Homem da Meia Noite – o boneco gigante cujo bloco há 80 anos é uma das marcas registradas do carnaval de Olinda – que ela apresenta a sua cidade ao G1.

O G1 faz uma série de reportagens sobre turismo em todos os estados onde está presente. A primeira semana da série foi no estado de São Paulo, a segunda foi no estado do Rio de Janeiro e a terceira em Pernambuco. Se você tiver dicas de destinos no estado, com descrição e fotos, envie ao VC no G1.)
Para conhecer Olinda, a sugestão de Tereza é programar uma estadia de dois ou três dias e se hospedar no Sítio Histórico. E mais importante: locomover-se a pé pelas ruas de traçado medieval para sentir de perto o clima paroquiano e a doçura dos moradores.
“Aqui toca o sino, tem galo cantando, pregão, vendedor de macaxeira e peixe... É uma cidade do interior, mas cheia de opções”, relata. “Olinda é Ouro Preto com mar. Daqui você vê o mar como em muito poucos lugares do mundo”, diz Tereza, que escolheu a Rua do Amparo para instalar sua casa e ateliê – aberto diariamente a visitas.
A cidade pernambucana tem uma parte física privilegiada: ladeiras, casario histórico, ruas de pedra e vistas deslumbrantes. “A arquitetura é do século XVII e Recife veio um século depois. Mas Olinda está passando por uma transformação arquitetônica discutível. Se os moradores soubessem que não pode misturar esse amarelo com roxo, esse azul com laranja... Parece um mostruário de tinta! Esta cidade é moura, deveria ser toda branca”, defende, com o cacife de quem tem um doutorado em história na Sorbonne. Mas nada que inviabilize a visita, até porque Olinda vai muito além do casario. A gastronomia, por exemplo, tem desde a comida popular, como as tapiocas e acarajés do Alto da Sé, até restaurantes sofisticados.
Roteiro
As ladeiras pedem calma. O início da vista pode ser na Praça do Carmo, na entrada do Sítio Histórico que foi considerado pela Unesco Patrimônio Cultural da Humanidade em 1982. No local, há uma central de informações mantida pelo governo do estado. Também é possível tomar um trenzinho e passear calmamente pelas ruas.
Há muito que se ver: igrejas, mosteiros, praças, casario. Para Tereza Costa Rêgo, “a arquitetura civil é um espetáculo”. Ela considera importante conhecer a Prefeitura, as casas em volta da Praça da Preguiça, o Museu de Arte Sacra e o Museu de Arte Contemporânea. Além do Alto da Sé – que acaba de ser revitalizado e ganhar um elevador panorâmico – onde está o Seminário de Olinda. Ficam lá diversas lojas de artesanato e barraquinhas de comidas típicas.
Para quem gosta de cultura, a cidade veste como uma luva. “Alguns dos maiores artistas do Brasil vivem aqui. Tem música, escultura, arte popular, erudita, figurativa, abstrata e primitiva”, descreve. Isso envolve desde os mais consolidados, com obras mais caras e muitas vezes inacessíveis ao grande público, até os mais jovens e uma grande variedade de artistas populares.
Na prática, nem todo artista recebe o público – mas a maioria deles participa do Olinda Arte em Toda Parte, festival anual em que os ateliês ficam abertos por uma semana (a edição 2011 acabou no dia 4 de dezembro). De todo modo, pelo site do evento é possível consultar a lista completa de ateliês da cidade e, quem sabe, arriscar uma batidinha na porta.
Ribeira
Tereza faz parte do grupo que decidiu adotar a cidade numa época em que ela estava muito estragada, portanto os imóveis custavam menos. Ela havia acabado de perder o companheiro – morto de infarte no dia em que voltou do exílio  – e tinha muito pouco dinheiro para viver. Era uma espécie de coletivo artístico, do qual participavam nomes como Montez Magno, Zé Cláudio, Zé Barbosa... “Somos todos filhos da Ribeira. O lugar foi um mercado de escravos e tem um telhado deslumbrante”.

Era lá que os artistas costumavam se reunir, numa época de produção improvisada, em que quadros nem sempre eram vendidos, e muitas vezes terminavam doados. Hoje, ela conta, todos foram se profissionalizando e construindo uma carreira mais sólida e individual. Na Ribeira, atualmente há uma galeria, com venda de artesanato e oficinas de artesãos. Mas a cidade vai se renovando: muitos dos filhos desses artistas decidiram adotar a mesma profissão.
Namorado
O Homem da Meia Noite, em 2012, comemora 80 anos. Tereza Costa Rêgo não esquece o encantamento que sentiu quando viu o boneco pela primeira vez – daí passou a se dizer namorada dele. “Esposa, mulher, ele tem um bocado por aí, eu não ligo. Quem dá a palavra final é a namorada”, brinca. No percurso do bloco, todos os anos, está incluída uma parada obrigatória para saudar Tereza em sua janela. Este é o único dia do carnaval em que ela abre a casa. “Tem muita cerveja, vatapá, feijoada... Comida para muita gente, sabe? Quem quiser, entra, come e bebe”, convida.


Fonte: portal G1.Com

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