terça-feira, 20 de novembro de 2012

Os três Reis Magos e a Catedral de Colônia


Fotos ou quadros da Catedral de Colônia tornaram-se conhecidíssimos em todo o mundo. Imponente, com suas duas torres elevando-se a quase 160 m do solo, ela é uma joia da arte gótica medieval às margens do Reno.

Oppidum Ubiorum: Esse era o nome do florescente núcleo urbano estabelecido pelos romanos, no ano 38 a.C., ao norte das fronteiras de seu Império em terras germânicas. Quase um século mais tarde, em 50 d.C., o núcleo tomou o nome de Colônia Agripina, em homenagem à esposa do Imperador Cláudio, mãe de Nero.

Com a conversão dos bárbaros ao cristianismo, surgiram nessa cidade, ao longo dos séculos, grandes varões reputados por sua ciência ou santidade de vida, a ponto de Colônia haver sido qualificada de a cidade santa junto ao Reno, ou a Roma do Norte, devido ao grande número de suas igrejas. Por sua importância, tornou-se sede episcopal e, séculos mais tarde, seus Arcebispos tornaram-se Príncipes-Eleitores do Sacro Império Romano Alemão.


Relíquias dos Reis Magos
Em meados do século XII, o Imperador Frederico Barba-roxa invadiu Milão e apoderou-se das relíquias dos Reis Magos, que se encontravam na igreja de Santo Eustórgio, dessa cidade, desde o início do século VI.

E o então Arcebispo de Colônia, Rainald von Dassel, encarregou-se de fazer o traslado para a Roma do Norte.

No dia 23 de julho de 1164, ao som dos carrilhões das igrejas, o Arcebispo Rainald entrava na antiga catedral conduzindo as veneráveis relíquias.

Para guardá-las e servir-lhes de escrínio, planejou-se a confecção de um grande relicário de ouro e pedras preciosas, trazendo no frontispício a cena da adoração dos três Reis Magos1.

Esse relicário, começado por Nikolaus von Verdun em 1181 e terminado por seus discípulos em 1220, constitui — juntamente com o relicário que guarda os restos mortais de Carlos Magno — um dos pontos altos da ourivesaria medieval.

A mais alta torre
Contudo, a piedade popular queria mais. Era preciso um relicário ainda maior, no qual a pedra rendilhada e o vitral multicolorido protegessem e envolvessem de esplendor o escrínio de ouro e de pedras preciosas. Planejou-se então uma imensa catedral, a maior do mundo, cuja pedra fundamental foi lançada pelo Arcebispo Konrad von Hochstaden em 1248, no lugar da antiga catedral erigida no século IX.

Colônia tornou-se, já a partir de fins do século XIII, grande centro de peregrinações: juntamente com Roma e Santiago de Compostela, constituiu um dos três maiores locais de peregrinações da Idade Média. E isso durou até fins do século XVIII, como constata Goethe em sua famosa obra Italienische Reise (Viagem à Itália).

Contudo, a construção não foi concluída no século XIII. Embora Colônia fosse uma cidade rica, as torres só ficaram prontas em 15 de outubro de 1880, sob o reinado de Guilherme I da Prússia. A Catedral de Colônia era então o edifício mais alto do mundo. Majestosa, altaneira, ela sobrepujava também as demais catedrais pela extensão de sua fachada.

Sólido escrínio dos veneráveis restos daqueles três varões que tiveram o privilégio de estar entre os primeiros a adorarem o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores! Em sua grandeza monumental, desafiando o destrutivo dente do tempo, à famosa catedral bem se poderiam aplicar as palavras de Cícero: "Alios ego vidi ventos; alias prospexi animo procellas”2 (Eu vi outros ventos e contemplei outras tempestades).

O ódio revolucionário

Contra esse estupendo monumento de fé e de piedade, no qual se refletem os melhores lados da alma alemã, voltou-se ao longo dos tempos o ódio dos ímpios, ateus e revolucionários de toda espécie.

Em fins da primeira metade do século XIX, quem melhor representou tal ódio foi Heinrich Heine, em sua época um expoente do pensamento ateu e republicano de tintas comunistas. Amigo de Marx e exilado na França por causa de seus escritos incendiários, Heine conseguiu, após 13 anos de exílio, autorização para retornar a seu país.

As impressões de seu reencontro com o solo pátrio após tão longo tempo, ele as consignou em sua famosa sátira Deutschland, ein Wintermärchen (Alemanha, um conto de inverno). Escrita em verso, a obra, considerada um texto clássico da literatura alemã, é objeto de acurado estudo em colégios e liceus. Ou em cursos de literatura alemã para estudantes estrangeiros.

Heine escreve que, dirigindo-se a Hamburgo, onde reviu sua mãe, chega a Colônia e contempla com olhar de ódio a vetusta catedral, símbolo do "fanatismo" e da "superstição". Não estavam longe os ecos dos impropérios da Revolução Francesa contra a Igreja...

Horror demoníaco à Catedral

Heine hospeda-se próximo à Catedral, e durante a noite sonha de modo estranho. Ele se vê penetrando no templo, acompanhado de um "espírito familiar, à maneira do `petit homme rouge' (o pequeno homem vermelho) que acompanhava Napoleão por todas as partes”. Na obscuridade do templo, um ponto luminoso o atrai. Ele aproxima-se do escrínio de ouro, onde repousam os três Reis: Gaspar, Baltazar e Melquior. Ali estão concentrados, a seu ver, quase dois milênios de "obscurantismo”, inconcebível depois do "século das luzes”. Desprezando sarcasticamente a morte, a realeza e a santidade, ele faz um sinal ao "executor de suas vontades” (o tal "espírito familiar"), o qual, brandindo então uma pesada maça de ferro, quebra, espandonga, reduz a pó aquilo que ele chama de "restos da superstição”. Satisfeito com seu vandalismo ímpio, Heine acorda.

Fora apenas um sonho, é verdade. Mas quão expressivo de seus mais íntimos sentimentos. Ele desejava que as torres da Catedral jamais fossem concluídas, e que o velho edifício se transformasse, no futuro, em estrebaria para os cavalos das tropas da Revolução3.
Em séculos anteriores ao de Heine, houve também inimigos da Igreja que quiseram transformar templos católicos em estábulos. Essa foi, aliás, a ameaça de chefes muçulmanos que, tanto às vésperas da batalha de Lepanto, em 1571, quanto durante o cerco de Viena, em 1683, manifestaram sua intenção de entrar na Basílica de São Pedro a cavalo.

O sonho de Heine exprime bem o grau de intensidade do ódio que os revolucionários votam não só a relíquias veneráveis, mas também e sobretudo a instituições e valores da Civilização Cristã, mesmo a edifícios.

O Islã e o sonho de Heine

Esse ímpio escritor alemão morreu há mais de 150 anos. Desapareceu com ele esse ódio? Não, evidentemente. Ele continua vivo. Talvez até mais virulento em sua latência. E só espera a primeira ocasião favorável para mostrar sua face hedionda, seja pela violência, seja pela lenta corrosão empreendida pela Revolução cultural. Exemplo típico dessa corrosão é a atual tentativa de transformar a cidade de Colônia na capital homossexual da Alemanha!

Tem-se falado muito aqui que a Europa — e em particular a Alemanha — encontra-se na alça de mira de terroristas islâmicos. E que não seria surpresa alguma se, de um momento para outro, ocorresse algum grave e pavoroso atentado terrorista.

Não seria a magnífica Catedral de Colônia — com suas veneráveis relíquias e suas esplendorosas obras de arte — alvo preferencial? Um ataque terrorista contra Colônia atingiria de cheio o coração da Alemanha católica. Que os três Reis Magos protejam nossa Catedral!


Notas:
1.Em 1903, o relicário foi aberto e dele retiradas três porções das relíquias dos Reis Magos. Constatou-se então que se conservam ainda tanto o crânio como quase todos os demais ossos.
2.Cícero, Familiares, 12, 25, 5.
3.Heinrich Heine, Deutschland, ein Wintermärchen, Insel Verlag, Frankfurt, 1993, pp. 31-34.



Extraído do Blog Catedraismedievais

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