Fernando Lugo, ex-presidente destituído
O novo presidente do Paraguai, Federico Franco, que assumiu o
poder na sexta (22) após o controverso processo de impeachment de Fernando
Lugo, terá uma semana decisiva para convencer os países vizinhos e evitar o
isolamento do país na região. Nove dos países sul-americanos, incluindo o
Brasil, rejeitaram o julgamento político do ex-presidente, destituído em menos
de 36 horas, e não reconhecem Franco como presidente (veja quadro).
A crise se agravou durante o fim de semana, quando muitos
destes países resolveram chamar seus embaixadores para consultas ou
simplesmente retirá-los do país.
O Paraguai foi suspenso temporariamente do Mercosul e da
Unasul (União das Nações Sul-Americanas) até que a "ordem democrática seja
restabelecida". O Paraguai também teve suspensa sua participação na cúpula
do Mercosul, que ocorre na sexta-feira (29), em Mendonza, na Argentina. A
decisão foi tomada em conjunto por Argentina, Brasil, Uruguai, Venezuela,
Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru.
A decisão ocorre apenas um dia após Franco, em sua primeira
entrevista à imprensa internacional, no sábado (23), ter dito que o país iria à
reunião do grupo.
Por sua vez, o ex-presidente Lugo, que inicialmente aceitou a
votação no Congresso, disse no domingo que o novo governo é ilegítimo, e
garantiu que ele iria à cúpula do Mercosul. Lugo também rejeitou o aceno do seu
ex-vice-presidente, que pediu ajuda para gerenciar a crise com os vizinhos.
Petróleo e paralisações
Internamente, o novo presidente também pode enfrentar sanções
econômicas, como o corte no fornecimento de petróleo venezuelano anunciado pelo
presidente Hugo Chávez no domingo.
O presidente da Petropar, a estatal de petróleo paraguaia,
Sergio Escobar, disse ao diário “ABC Color” que o país tem reservas de petróleo
que garantem o abastecimento do país por ao menos dois meses, além de contratos
com outras empresas, como a Petrobras.
Já a Frente pela Defesa da Democracia, que reúne partidos de
esquerda, centro-esquerda e movimentos sociais do Paraguai, promete uma série
de atos e paralisações pelo país pela renúncia do novo presidente e o retorno
de Lugo.
Brasil
O Ministério de Relações Exteriores anunciou sábado que
convocou o embaixador do Brasil no Paraguai para consultas e considerou como
"rito sumário" a destituição de Lugo. A presidente Dilma Rousseff fez
uma reunião ministerial de emergência para discutir a crise.
Mais cedo, o ministro de Relações Exteriores, Antonio
Patriota, afirmou que o Brasil deve seguir a posição da Unasul (União de Nações
Sul-Americanas) no caso e não descartou sanções. A cúpula presidencial da
Unasul, que analisará a crise no Paraguai após a destituição do presidente
Fernando Lugo, será realizada na quarta-feira (27) em Lima, no Peru.
A Colômbia também anunciou que chamará o seu embaixador no
Paraguai para consultas.
Crise no Paraguai
Federico Franco assumiu o governo do Paraguai na sexta-feira
(22), após o impeachment de Fernando Lugo. O processo contra Lugo foi iniciado
por conta do conflito agrário que terminou com 17 mortos no interior do país. A
oposição acusou Lugo de ter agido mal no caso e de estar governando de maneira "imprópria,
negligente e irresponsável".
Ele também foi acusado por outros incidentes ocorridos
durante o seu governo, como ter apoiado um motim de jovens socialistas em um
complexo das Forças Armadas e não ter atuado de forma decisiva no combate ao
pequeno grupo armado Exército do Povo Paraguaio, responsável por assassinatos e
sequestros durante a última década, a maior partes deles antes mesmo de Lugo
tomar posse.
O processo de impeachment aconteceu rapidamente, depois que o
Partido Liberal Radical Autêntico, do então vice-presidente Franco, retirou seu
apoio à coalizão do presidente socialista. A votação, na Câmara, aconteceu no
dia 21 de junho, resultando na aprovação por 76 votos a 1 – até mesmo
parlamentares que integravam partidos da coalizão do governo votaram contra
Lugo. No mesmo dia, à tarde, o Senado definiu as regras do processo.
Na sexta, o Senado do Paraguai afastou Fernando Lugo da
presidência. O placar pela condenação e pelo impeachment do socialista foi de
39 senadores contra 4, com 2 abstenções. Federico Franco assumiu a presidência
pouco mais de uma hora e meia depois do impeachment de Lugo.
Em discurso após o impeachment, Lugo afirmou que aceitava a
decisão do Senado. Mas, neste domingo, Lugo voltou atrás, disse que não
reconhece o governo de Federico Franco e que não deve, portanto, aceitar o
pedido do novo presidente para ajudá-lo na tarefa de explicar a mudança de
governo a países vizinhos.
Fonte: G1.Com
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