Manifestantes protestam contra cortes na área de educação, em Madri
Maio está chegando e com ele, talvez, uma Primavera Europeia, já que, para a zona do euro, o mês promete turbulência.
A batalha pela Presidência da França é um precedente para a
batalha pela Europa.
François Hollande - o candidato socialista e favorito para
vencer as eleições da França - se colocou na vanguarda do primeiro movimento
antiausteridade. Ao fazer isso desafiou Angela Merkel e a liderança alemã.
O candidato francês promete renegociar o chamado pacto fiscal
(tratado que visa impôr a disciplina fiscal na zona do euro). Desde que a crise
começou, não há tratado mais importante que esse para a chanceler (premiê)
alemã.
Merkel disse no final da semana passada que ele "não
pode ser renegociado". François Hollande deu uma resposta contundente:
"Não será a Alemanha que decidirá por toda a Europa".
Se Hollande ganhar, dirá à Berlim: "a sua estratégia não
está funcionando e o povo francês 'tomou uma decisão'". Ele quer retomar a
ênfase no crescimento econômico.
O primeiro encontro entre os dois líderes será tenso, para se
dizer o mínimo.
A Espanha será o foco das atenções da França e da Alemanha.
Segundo um ministro espanhol, o país está "em uma crise de enorme
magnitude". Ele comparou o país ao Titanic e alertou os alemães: "se
houver um naufrágio, até os passageiros da primeira classe se afogarão".
Revolta
Os mercados não acreditam que a Espanha conseguirá reduzir
seu deficit para 5,3%. Seus bancos ainda estão se recuperando da perda de
bilhões em "empréstimos podres" da bolha imobiliária do país. Além
disso, 367 mil trabalhadores perderam seus empregos nos três primeiros meses do
ano.
A resistência à austeridade é crescente. No fim de semana
aconteceram protestos contra os cortes na saúde e na educação.
Mais protestos estão marcados para terça-feira em frente a um
encontro do Banco Central Europeu em Barcelona. Além disso, os
"indignados" espanhóis podem repetir as ações do ano passado na
metade deste mês de maio. Uma grande economia -que corresponde ao dobro das
três economias já resgatadas- está prestes a necessitar ajuda.
No próximo domingo, os gregos terão eleições parlamentares.
Eles ainda têm que implementar algumas medidas de austeridade que estavam entre
as condições para a concessão de um segundo resgate negociado no mês passado.
É possível que a maioria dos parlamentares eleitos se oponha
a cortes adicionais de gastos. A Grécia pode voltar a ficar em crise.
Ajuste
No final de maio, os irlandeses opinarão sobre o pacto fiscal
em um referendo. Os italianos estão realizando eleições locais. A população
europeia está tendo uma chance para julgar a questão da austeridade. Na semana
passada dois governos - da Holanda e da Romênia - caíram por causa dela.
Uma grande falha está sendo exposta no pacto fiscal de
Merkel. Ele não é democrático. Também deixa de mãos atadas os futuros governos
- e essa, de fato, era a intenção do tratado, mas ele não impede que os
eleitores se oponham a mais cortes.
Na zona do euro, déficits estão sendo reduzidos. Mas o débito
- em muitos casos - ainda está crescendo. O crescimento é praticamente
inexistente. A recessão voltou a países como Espanha e Itália. A diferença
entre as economias do sul da Europa e a alemã cresce cada vez mais.
Entre a cúpula da União Europeia cresce um temor de que a
revolta contra a austeridade os atinja. Na semana passada, 30% dos franceses
apoiaram partidos hostis ao bloco.
O resultado foi justificado como populismo - embora essa seja
a explicação padrão para qualquer forma de crítica. Porém, aqueles eram os
votos de pessoas reais.
O economista Nouriel Roubini descreveu a crise na eurozona
como "um descarrilamento em câmera lenta".
Enquanto entramos em maio percebemos sinais de que a revolta
contra a austeridade está ganhando força. Se isso acontecer será uma fase nova
e imprevisível da crise europeia.
Fonte: BBC Brasil
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