quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Quem de fato pode dizer que tem um "muro das lamentações" ao seu redor.



Em uma recepção na representação diplomática da Alemanha em Ramallah, para celebrar o aniversário de unificação do país europeu, o premiê palestino, Salam Fayyad, declarou aos presentes que a barreira de concreto e arame farpado que Israel levantou sobre a Cisjordânia cairá como o muro de Berlim. “A barreira cairá pela vontade do povo palestino, assim como o muro de Berlim caiu pela vontade do povo alemão que queria reunificar seu país”, disse o premiê palestino. Fayyad ressaltou também que o povo palestino está pronto para viver como qualquer outro povo do mundo e se tornar um Estado membro das Nações Unidas, em referência ao pedido de assento permanente na organização, apresentado em 23 de setembro.

O muro na Cisjordânia foi uma iniciativa do partido trabalhista israelense, representado pelo então premiê Ehud Barak, que buscava uma alternativa passiva para reagir aos atentados suicidas que começaram a ocorrer com frequencia após a Segunda Intifada, no ano 2000. A construção do muro veio em 2002, já no governo do direitista Likud de Ariel Sharon. Enquanto os israelenses veem o muro como “proteção” e “segurança”, os palestinos o encaram como forma de “segregação” e “humilhação”. Os palestinos também acusam Israel de usar a barreira para ocupar mais terras, uma vez que o muro nem sempre corresponde à “linha verde”, demarcação estabelecida no armistício de 1949 e possível proposta para fronteira entre os dois Estados.

Ao fim de seu discurso em Ramallah, sede da Autoridade Palestina, Fayyad agradeceu à Alemanha por seu suporte financeiro e pelos programas de cooperação que mantém por meio de acordos bilaterais ou através da União Europeia. Para o premiê palestino, este apoio tem sido fundamental para preparar as instituições que devem formar um futuro Estado.

Os elogios de Fayyad à Alemanha ocorrem poucos dias depois de a chanceler alemã, Angela Merkel, se irritar com o premiê israelense Benjamin Netanyahu. Segundo o jornal Haaretz, um funcionário israelense revelou na sexta-feira que Merkel ficou “furiosa” com a aprovação da construção de mais 1.100 casas no assentamento judaico de Gilo. A decisão de Netanyahu teria lhe incomodado, depois de seu declarado esforço em tentar convencer os palestinos a voltarem às negociações diretas com Israel em vez de buscarem reconhecimento no Conselho de Segurança da ONU.

“A aprovação de novas construções cria dúvidas sobre a vontade do governo israelense em começar séria conversação com os palestinos”, afirmou Merkel a Netanyahu, segundo informações do gabinete de imprensa da chanceler. “O governo israelense tem que remover essas dúvidas quanto sua seriedade. É sua responsabilidade”, continuou Merkel. Por outro lado, o porta-voz do premiê israelense, Liran Dan, pontuou que Netanyahu disse à chanceler alemã que “ele não vê Gilo como um assentamento, mas como um bairro da capital Jerusalém, onde qualquer governo israelense pode construir”.
Merkel também teria telefonado a Abbas nesta segunda-feira para lhe instar retornar às negociações proposta pelo Quarteto (Estados Unidos, União Europeia, ONU e Rússia) – que prevê diálogo dentro de um mês, inclusive sobre fronteiras e segurança. Abbas mencionou que Netanyahu deveria lhe garantir primeiro sobre o congelamento dos assentamentos. “Não preciso que ele o diga publicamente, só preciso que ele não nos coloque em uma situação embaraçosa”, disse Abbas a Merkel, segundo a agência oficial palestina WAFA.
Em artigo publicado nesta quarta-feira no jornal Maariv, o ex-embaixador israelense na Alemanha, Avi Primor, deixou seu alerta ao governo de Netanyahu. O diplomata avalia que o governo de Merkel continuará com a cooperação econômica e cultural com Israel e até seguirá com a mediação para liberar o soldado israelense Gilad Shalit, sequestrado pelo Hamas em Gaza há seis anos. A pergunta é até “quando” a Alemanha manterá seu apoio a Israel na ONU e evitará votar a favor dos palestinos no Conselho de Segurança.
“A opinião pública na Alemanha está perdendo a paciência com nossa política nos territórios e assentamentos”, afirma Primor. “Nenhum governo resiste para sempre contra sua propria opinião pública, que começa a se posicionar contra as políticas israelenses de maneira mais firme e decidida”, avisa o diplomata.


Uma adaptação de: Carta Capital

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