quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Uma casa centenária em Santo Antônio/RN. A casa da família Targino

No início de 2014, completa-se um século desde que a atual casa da família Targino, do amigo Denílson(Denis), foi construída. O lar dessa tradicional família foi erguida na antiga Rua Dr. Pedro Velho(Rua Grande) atual Lindolfo Gomes Vidal. E nesse ano que se aproxima, de 2014, a singela construção voltou a ser destaque. Não por desejar ser uma casa melhor do que as outras em sua proximidade e sim por permanecer quase intocável em sua arquitetura original, o que comprova uma descrição em alto-relevo na sua fachada que mostra (1914). Outras em nossa cidade pode até ser mais antiga, mais o 1914 deslumbrante e frontal desencoraja qualquer um que venha a querer retirar de si o tão descomunal símbolo, testemunha pomposa da audaciosa arquitetura do início do século 20 da cidade de Santo Antônio/RN. 

Detalhe em alto-relevo

E em conversa com o amigo Denis, aceitei ao desafio de fazer uma homenagem a simbólica casa da “Rua Grande”. Segundo Denis a família completa é formada por: Seus pais; o senhor Geraldo Targino Bezerra e Dona Severina de Oliveira Bezerra e filhos: Dickson, Wilson, Wellington, Ciraldo, Adilson, Izemar, Jackson, Gracinha, Zenaide, Edmílson, Luiz José (Adeda), Zeneide, Denilson (deninha) e Sineide.

E segundo o próprio Denis Targino em mensagem enviada a mim (via redes sociais) disse: “Ali nessa casa moravam 04 funcionários do banco do Brasil concursados, o atual procurador do município, Dr.Edmílson, entre outros irmãos, também um dos maiores fiscais de renda do RN”; O seu pai, o senhor Geraldo Targino.

E eu vos digo, pelo lado de minha visão e observação da “Rua Grande” que os anos passados e vividos por alguém daquela época, sonhando sonhos que talvez, hoje, ninguém sonhe iguais são retratos perfeitos da atualidade, demostrados visível e a cores em suas sublimes paredes. As necessidades e dificuldades de parentes ancestrais: bisavós, avós, pais, entre tantos, ao longo de toda uma vida passada nos faz meditar a respeito até de nossos parentes que já se foram. Suas grossas paredes testemunham em silêncio e ao mesmo tempo relatam os seus anseios, as suas decepções, as disciplinas impostas duramente pelas dificuldades da época, os relacionamentos e as amizades. É nítida a crítica quanto à destruição das várias construções daquele tempo onde residia a elite da nossa cidade de meados do século passado e que tais críticas subsistem até os dias de hoje. Críticas que não cabem aos Targinos que, como escolhidos e predestinados, preservaram, com pouquíssimas mudanças, uma das originais arquiteturas de nossa cidade. Quer voltar ao tempo? Passe então pela antiga “Rua Grande” e sinta um ar ancestral de uma rua de outrora sem calçamento; rua da antiga feira aos sábados, rua onde se passavam as procissões com fiéis pisando em barro(ou lama sob chuvas)e que hoje se passam pelo asfalto atual, das quermesses, das festas da padroeira. Todas com testemunha da imponente Igreja Matriz logo a frente da dita casa. Ah! Era a Vila Sindá que tanto acompanhou a alegria e a tristeza dos nossos conterrâneos e parentes de outrora. Saudosismo que merece!

1914! Essa data escrita pelas mãos hábeis de um operário que o tempo o levou, esculpida na parede como prova irrefutável daquele tempo. Tal descrição a partir de agora não passará despercebida. Eu, igual ao amigo Denis, fui testemunha tardia dessa bela história da “Rua Grande”, porém de difícil descrição, descrição essa que possa ser bem compreendida pelas pessoas de hoje. O que o “eu” presenciou terá uma visão completamente diferente aos olhos e observações de hoje. Todavia, as fotografias da época nos facilita uma pouco a esse grande desafio. O que comprova, como disse antes, que os sonhos que sonhei e que, pela particularidade de cada pessoa em seus anos vividos e sentidos, ninguém os sonhará jamais! Não da mesma maneira, como poderia comprovar o amigo Denis quando me disse: “Uma casa que sempre recebeu a todos independente de cor, raça ,religião ou partidos políticos. Nessa casa construí todo um passado de amizades puras e leais, amizades essas muito diferentes das firmadas hoje. E você faz parte dessa amizade construída ontem. É bem verdade que vivemos um pouco afastado, mas, nunca perdemos o respeito e nem o brilho”.

Mas, por meio de algumas fotografias de épocas diferentes do centro da cidade de Santo Antônio/RN é possível mostrar as mudanças na paisagem e as manifestações sociais em cada período. A arquitetura do centro da cidade(como a casa da família Targino, entre outras) formava uma paisagem que vinha ao encontro dos anseios, da alegria e da tristeza da juventude dos anos passados, onde se respeitavam os mais velhos. Anos que não voltam mais! Bem próximo dessas casas haviam empórios e bazares(mercearia do Seu Jorge, Seu Gentil, bodega do Zé Maia, farmácia de Dona Arlete, entre outras) onde senhoras passavam com sacolas de compras semanais e os senhores sentados nas calçadas, ao entardecer, iam matar as horas fatigadas. E a sede da antiga prefeitura(que hoje não existe mais)se foi com o tempo e a ignorância. A igreja e poucas casas conservam a arquitetura da época. Saudosa época! O asfalto da rua de hoje, sobre a areia e as pedras do calçamento de ontem; e tantas vezes pisado por pés que se foram, nem de longe reflete a saudade daquele tempo.

Não menos diferentes são algumas casas que insistem em desafiar o tempo, em contraste com as novas construções (contemporâneas da casa de número 12, de 1914). Num passado próximo: se viam casas com reboco rebuscado e paredes grossas, senhoras em suas janelas, perdidas em suas lembranças e orações, quadros antigos na parede com moldura esverdeada em zinabre, um santo aqui, uma santa ali, uma oração para Santo Expedito ou Nossa Senhora da Conceição. Cadê a velha casa que abrigava o motor de geração de energia que, à noite, iluminava as ruas? Hoje, tudo mudou, é um carro que expulsa as cadeiras das calçadas, é uma luz que encobre as estrelas, é um sobrado moderno que nasce sobre um casarão antigo. E a igreja! Já não atrai tanta gente aos domingos. Surgiram outros locais de culto, mas também espaços de encontros, de entretenimento e de diversão.

A paisagem muda, e com ela, acompanhando a sua dinâmica, as pessoas também. Os meninos da “Rua Grande” que outrora rodavam piões sobre suas calçadas, barquinhos de papel levados pela água das chuvas e que soltavam pipas ao vento de uma tarde sombria (fui testemunha disso), crescidos, veem seus herdeiros lutando com os videogames e cercados por outros amigos ‘virtuais’, nas redes sociais. Muitos nem percebem tais mudanças no tempo e na paisagem, outros, porém, assim como eu, talvez predestinados ou fadados à eterna saudade; quase conseguem ver suas sombras e ouvir suas vozes. Não as vozes nem as sombras atuais, mas àquelas de um passado distante, alimentos de lembranças e dotadas de penosa sinestesia.

Passa o tempo, passa o homem, passa o carro, contudo; não passa a saudade de um tempo, tempo esse, estampado em uma “simples” fotografia! Fotografia essa, comparada ao retrato de uma pura realidade e ao mesmo tempo da atualidade. Da lembrança da “Rua Grande” e da história de uma simples e humilde casa, entre tantas, que fica encravada no coração da cidade de Santo Antônio/RN. Nasce agora com todos esses anos, a partir de agora, uma casa emblemática na nossa cidade, não uma casa qualquer, mas uma casa centenária (1914 – 2014...). E nesse sentido com certeza vale uma comemoração! Abraços ao amigo Denis e a toda a sua família.





Por Claudianor D. Bento


















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