No início de 2014,
completa-se um século desde que a atual casa da família Targino, do amigo Denílson(Denis),
foi construída. O lar dessa tradicional família foi erguida na antiga Rua Dr.
Pedro Velho(Rua Grande) atual Lindolfo Gomes Vidal. E nesse ano que se
aproxima, de 2014, a singela construção voltou a ser destaque. Não por desejar ser
uma casa melhor do que as outras em sua proximidade e sim por permanecer quase
intocável em sua arquitetura original, o que comprova uma descrição em
alto-relevo na sua fachada que mostra (1914).
Outras em nossa cidade pode até ser mais antiga, mais o 1914 deslumbrante e
frontal desencoraja qualquer um que venha a querer retirar de si o tão
descomunal símbolo, testemunha pomposa da audaciosa arquitetura do início do
século 20 da cidade de Santo Antônio/RN.
Detalhe em alto-relevo
E em conversa com o amigo Denis,
aceitei ao desafio de fazer uma homenagem a simbólica casa da “Rua Grande”. Segundo
Denis a família completa é formada por: Seus pais; o senhor Geraldo Targino
Bezerra e Dona Severina de Oliveira Bezerra e filhos: Dickson, Wilson, Wellington,
Ciraldo, Adilson, Izemar, Jackson, Gracinha, Zenaide, Edmílson, Luiz José
(Adeda), Zeneide, Denilson (deninha) e Sineide.
E segundo o próprio
Denis Targino em mensagem enviada a mim (via redes sociais) disse: “Ali nessa
casa moravam 04 funcionários do banco do Brasil concursados, o atual procurador do município, Dr.Edmílson, entre outros
irmãos, também um dos maiores fiscais de renda do RN”; O seu pai, o senhor
Geraldo Targino.
E eu vos digo, pelo
lado de minha visão e observação da “Rua Grande” que os anos passados e vividos
por alguém daquela época, sonhando sonhos que talvez, hoje, ninguém sonhe
iguais são retratos perfeitos da atualidade, demostrados visível e a cores em
suas sublimes paredes. As necessidades e dificuldades de parentes ancestrais:
bisavós, avós, pais, entre tantos, ao longo de toda uma vida passada nos faz
meditar a respeito até de nossos parentes que já se foram. Suas grossas paredes
testemunham em silêncio e ao mesmo tempo relatam os seus anseios, as suas decepções,
as disciplinas impostas duramente pelas dificuldades da época, os
relacionamentos e as amizades. É nítida a crítica quanto à destruição das
várias construções daquele tempo onde residia a elite da nossa cidade de meados
do século passado e que tais críticas subsistem até os dias de hoje. Críticas
que não cabem aos Targinos que, como escolhidos e predestinados, preservaram,
com pouquíssimas mudanças, uma das originais arquiteturas de nossa cidade. Quer
voltar ao tempo? Passe então pela antiga “Rua Grande” e sinta um ar ancestral
de uma rua de outrora sem calçamento; rua da antiga feira aos sábados, rua onde
se passavam as procissões com fiéis pisando em barro(ou lama sob chuvas)e que
hoje se passam pelo asfalto atual, das quermesses, das festas da padroeira.
Todas com testemunha da imponente Igreja Matriz logo a frente da dita casa. Ah!
Era a Vila Sindá que tanto acompanhou a alegria e a tristeza dos nossos
conterrâneos e parentes de outrora. Saudosismo que merece!
1914! Essa data escrita
pelas mãos hábeis de um operário que o tempo o levou, esculpida na parede como
prova irrefutável daquele tempo. Tal descrição a partir de agora não passará
despercebida. Eu, igual ao amigo Denis, fui testemunha tardia dessa bela
história da “Rua Grande”, porém de difícil descrição, descrição essa que possa
ser bem compreendida pelas pessoas de hoje. O que o “eu” presenciou terá uma
visão completamente diferente aos olhos e observações de hoje. Todavia, as
fotografias da época nos facilita uma pouco a esse grande desafio. O que comprova, como disse antes, que os sonhos que sonhei e que, pela particularidade de cada
pessoa em seus anos vividos e sentidos, ninguém os sonhará jamais! Não da mesma
maneira, como poderia comprovar o amigo Denis quando me disse: “Uma casa que sempre
recebeu a todos independente de cor, raça ,religião ou partidos políticos.
Nessa casa construí todo um passado de amizades puras e leais, amizades essas
muito diferentes das firmadas hoje. E você faz parte dessa amizade construída
ontem. É bem verdade que vivemos um pouco afastado, mas, nunca perdemos o
respeito e nem o brilho”.
Mas, por meio de
algumas fotografias de épocas diferentes do centro da cidade de Santo Antônio/RN
é possível mostrar as mudanças na paisagem e as manifestações sociais em cada
período. A arquitetura do centro da cidade(como a casa da família Targino,
entre outras) formava uma paisagem que vinha ao encontro dos anseios, da
alegria e da tristeza da juventude dos anos passados, onde se respeitavam os
mais velhos. Anos que não voltam mais! Bem próximo dessas casas haviam empórios
e bazares(mercearia do Seu Jorge, Seu Gentil, bodega do Zé Maia, farmácia de
Dona Arlete, entre outras) onde senhoras passavam com sacolas de compras
semanais e os senhores sentados nas calçadas, ao entardecer, iam matar as horas
fatigadas. E a sede da antiga prefeitura(que hoje não existe mais)se foi com o
tempo e a ignorância. A igreja e poucas casas conservam a arquitetura da época.
Saudosa época! O asfalto da rua de hoje, sobre a areia e as pedras do
calçamento de ontem; e tantas vezes pisado por pés que se foram, nem de longe
reflete a saudade daquele tempo.
Não menos diferentes
são algumas casas que insistem em desafiar o tempo, em contraste com as novas construções
(contemporâneas da casa de número 12, de 1914). Num passado próximo: se viam casas
com reboco rebuscado e paredes grossas, senhoras em suas janelas, perdidas em
suas lembranças e orações, quadros antigos na parede com moldura esverdeada em
zinabre, um santo aqui, uma santa ali, uma oração para Santo Expedito ou Nossa
Senhora da Conceição. Cadê a velha casa que abrigava o motor de geração de
energia que, à noite, iluminava as ruas? Hoje, tudo mudou, é um carro que
expulsa as cadeiras das calçadas, é uma luz que encobre as estrelas, é um
sobrado moderno que nasce sobre um casarão antigo. E a igreja! Já não atrai
tanta gente aos domingos. Surgiram outros locais de culto, mas também espaços de
encontros, de entretenimento e de diversão.
A paisagem muda, e com
ela, acompanhando a sua dinâmica, as pessoas também. Os meninos da “Rua Grande”
que outrora rodavam piões sobre suas calçadas, barquinhos de papel levados pela
água das chuvas e que soltavam pipas ao vento de uma tarde sombria (fui
testemunha disso), crescidos, veem seus herdeiros lutando com os videogames e
cercados por outros amigos ‘virtuais’, nas redes sociais. Muitos nem percebem
tais mudanças no tempo e na paisagem, outros, porém, assim como eu, talvez
predestinados ou fadados à eterna saudade; quase conseguem ver suas sombras e
ouvir suas vozes. Não as vozes nem as sombras atuais, mas àquelas de um passado
distante, alimentos de lembranças e dotadas de penosa sinestesia.
Passa o tempo, passa o
homem, passa o carro, contudo; não passa a saudade de um tempo, tempo esse,
estampado em uma “simples” fotografia! Fotografia essa, comparada ao retrato de
uma pura realidade e ao mesmo tempo da atualidade. Da lembrança da “Rua Grande”
e da história de uma simples e humilde casa, entre tantas, que fica encravada
no coração da cidade de Santo Antônio/RN. Nasce agora com todos esses anos, a
partir de agora, uma casa emblemática na nossa cidade, não uma casa qualquer,
mas uma casa centenária (1914 – 2014...). E nesse sentido com certeza vale uma
comemoração! Abraços ao amigo Denis e a toda a sua família.
Por Claudianor
D. Bento
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