sábado, 14 de abril de 2012

País ganha novo centro para pesquisa de câncer



As pesquisas para diagnóstico e tratamento do câncer no Brasil ganharam um reforço nessa quinta-feira. O Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde foram tratados nos últimos anos a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e o ex-vice-presidente José Alencar, inaugurou um Centro de Oncologia Molecular, em parceria com o Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, referência nos estudos neste campo. A partir do sequenciamento genético dos tumores, o laboratório vai viabilizar a simplificação da detecção da doença e tornar sua terapia mais personalizada, minimizando os efeitos colaterais para o paciente.

Em todo o mundo, os estudos têm avançado não apenas para encontrar a cura, mas para permitir que o câncer seja atacado diretamente, evitando que todo o organismo sofra danos, e para diminuir a resistência aos tratamentos. Para isso, cientistas se esforçam para entender as características genéticas dos tumores e também os perfis dos pacientes, o que ajuda a prever a capacidade de cada um responder a determinada terapia.

O novo centro nasce com 15 pesquisas em andamento sobre tumores como o colorretal (intestino), de mama e estômago, alguns dos de maior prevalência no país. O objetivo é associar este conhecimento com os dados do Centro de Oncologia do hospital, liderado por Paulo Hoff. A unidade conta com duas máquinas de sequenciamento do genoma dos tumores, que fazem o trabalho em um dia e meio.

— A aplicação do conhecimento gerado nas pesquisas básicas aos estudos clínicos vai nos ajudar a caminhar em direção a uma medicina cada vez mais personalizada. Além disso, esse centro vai capacitar profissionais e gerar conhecimento dentro do nosso país. Os resultados podem começar a chegar em cinco anos ou até menos — diz a coordenadora da nova unidade, Anamaria Aranha Camargo, pesquisadora do Instituto Ludwig, que desde fevereiro trabalha no projeto no Sírio.

As pesquisas nesta área devem permitir, por exemplo, que em poucos anos os pacientes não precisem mais passar pela colonoscopia — um exame incômodo e cuja preparação é demorada — para diagnosticar o câncer de intestino. Um teste de fezes revelaria a presença de um marcador do DNA do tumor nas fezes da pessoa, o que indicaria sua presença no organismo. Nos Estados Unidos, o exame está sendo testado em larga escala e deve chegar ao mercado em aproximadamente dois anos, segundo Hoff.

Já o diagnóstico do câncer de mama exigiria mais tempo para ser simplificado, mas é outro exemplo da aplicação destes estudos na melhoria da qualidade de vida do paciente. Um simples teste de sangue poderia denunciar a presença de um marcador genético desses tumores no corpo da mulher. Para isso, no entanto, mais pesquisas são necessárias para identificar um indicador presente em todos estes cânceres.

Este não é o primeiro centro de oncologia molecular no país. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) também tem pesquisas nesta área, que começaram a serem desenvolvidas no Brasil há cerca de dez anos pelo Hospital A. C. Camargo, também em São Paulo, afirma o coordenador de pesquisa clínica e inovação tecnológica do Inca, Carlos Gil:

— A nova unidade é bem-vinda como mais um centro que se propõe a realizar estudos nesta área. Estamos, de alguma maneira, correndo atrás do prejuízo no Brasil. Esses centros existem há décadas em outros países.

Para que os estudos sobre câncer por aqui avancem ainda mais; no entanto, a regulamentação das pesquisas precisa ser aprimorada, na opinião do oncologista Paulo Hoff. Entre as modificações apontadas pelo especialista estaria o fim da exigência da aprovação do projeto de pesquisa por dois comitês de ética — um local e outro federal —, o que chega a durar um ano. Nos EUA, o tempo médio é de seis meses e, em países como Canadá e Austrália, dois meses.

— Ninguém está negando a necessidade de aprovação por um comitê de ética. Mas por que exigir a avaliação de dois? Se confiássemos no julgamento de apenas uma instituição, reduziríamos o tempo de espera dos pacientes — afirma Hoff.


Da Agência O Globo

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