Foto: Galeria de gaah89/Flickr
São Paulo – Após 5 anos de estudos, pesquisadores do Brasil,
Estados Unidos, Africa do Sul, Austrália, Alemanha, França, Portugal, Uruguai e
Argentina desvendaram as semelhanças geológicas entre os continentes africano e
sul-americano. Eles pesquisaram a correlação dos terrenos que formam a parte
oeste da África com o leste da América do Sul.
Segundo professor, os terrenos eram contínuos, mas foram
separados quando da abertura do oceano Atlântico.
Segundo o professor da Universidade de São Paulo (USP) Miguel
Basei, coordenador do estudo no Brasil, foi possível definir inúmeros locais do
oeste da África que, ao redor de 500 milhões de anos atrás, estavam unidos a
seus congêneres sul-americanos. “São terrenos que que eram contínuos, mas foram
separados quando da abertura do oceano Atlântico. Essa identificação foi um dos
pontos centrais de nossa pesquisa”, declarou Basei.
Pelas simulações feitas, em computador, é possível prever
como a dinâmica de movimento dos continentes desenhará o planeta no futuro.
Segundo o pesquisador, em 50 milhões ou 100 milhões de anos, haverá uma nova
distribuição dos continentes com fusões e fissões das massas continentais
atuais. Esse processo, que está em curso, inclui, o aumento da distância entre
Brasil e África, com o oceano Atlântico se abrindo cada vez mais”, ressaltou.
Essa abertura dos continentes teve início há 130 milhões de
anos e segue gerando reflexos em toda porção leste da América do Sul. Um
exemplo é a criação das bacias onde foram descobertos, recentemente, os poços
de petróleo do pré-sal. Basei explica que esses fenômenos, porém, ocorreram em
época mais recente do que a abordada pelos projeto. Apesar de não contemplar o
período de estudo do projeto, o cientista lembra que a dissipação de energia
gerada por esses processos recentes utilizam-se das feições mais antigas. “É
importante conhecer a estruturação anterior para sabermos como no futuro elas
poderão vir a influenciar este processo”, disse.
Portanto, a previsão de terremotos e vulcões, embora não
tenha sido alvo da pesquisa, tem relação com o estudo evolutivo feito sobre os
terrenos. Na Cordilheira dos Andes, explica Bassei, houve um ‘mergulho’ das
placas oceânicas por baixo do continente sulamericano. “Esse processo gera
vulcanismo e os terremotos, mas isso é porque lá o processo é distinto geologicamente
do que ocorre no lado que diz respeito ao Brasil”.
Além da comparação geológica entre os dois continentes, os
pesquisadores estudaram a forma como a América do Sul evoluiu. Ela cresceu em
sua extremidade oeste por expansão de terrenos. “Antes da evolução dos Andes,
que é uma cadeia de montanhas jovem, nós tivemos inúmeros terrenos que não se
formaram na América do Sul, mas que se juntaram a ela em torno de 450 milhões
de anos atrás”, conta o pesquisador.
O projeto permitiu a montagem de dois laboratórios que contam
com equipamento de última geração: o Shrimp, sigla em inglês para microssonda
iônica de alta resolução, e o Laicpms constituído por uma fonte de laser
acoplada a um espectrômetro de massas. Ambos permitem a determinação da idade
de minerais presentes nas rochas analisadas, forma usada pelos cientistas para
caracterizar terrenos de épocas tão distantes. Segundo Basei, o mineral
utilizado durante a pesquisa foi o zircão, que tem urânio em sua constituição.
Ele conta que, com o tempo, o zircão se desintegra para o chumbo por força da
radioatividade. A medição da quantidade desses elementos permite, assim, aos
cientistas descobrirem a idade da rocha.
Participaram do estudo 17 pesquisadores brasileiros (11 do
Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, 01 da Universidade
Estadual de Campinas, 02 da Universidade Federal do Paraná, 01 da Universidade
Federal de Pernambuco e 01 do Serviço Geológico do Brasil) e 12 cientistas
estrangeiros (01 dos Estados Unidos, 02 da Africa do Sul, 01 da Austrália, 01
da Alemanha, 01 da França, 01 de Portugal, 02 do Uruguai, e 03 da Argentina).
Fernanda Cruz
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
Fonte: Agência Brasil/Carta Capital
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