O início da ferrovia no RN
Presente já nas primeiras horas do dia de boa parte da
população, o trem desempenha um papel fundamental na vida de muitas pessoas,
possibilitando o ir e vir diário. Por ser um afazer tão recorrente, são poucas
as vezes que paramos e refletimos sobre as mudanças significativas que as ferrovias
causaram mundo afora. No Brasil, o progresso de algumas regiões está
intimamente associado à implantação de sistemas ferroviários.
No nordeste brasileiro não foi diferente, mais precisamente
no Rio Grande do Norte. Movidos pela necessidade de simplificar a locomoção dos
habitantes e dinamizar a economia local, os governantes do RN viram na estrada
de ferro a solução para tais questões. Os trens que começaram a cortar o estado
trouxeram e levaram não só cargas e passageiros, mas novas perspectivas para a
vida dos potiguares. A construção da ferrovia oxigenou a economia da região e,
consequentemente, trouxe esperança para as comunidades, que viram nos trilhos
uma alternativa aos infortúnios causados pela seca.
Durante as primeiras décadas de implantação do sistema
ferroviário no estado, duas ferrovias foram construídas. A primeira foi
inaugurada em 1881 e a segunda em 1906.
Essas duas estradas de ferro compõem parte da história da
ferrovia do RN, em momentos diferentes e tiveram fins distintos, cada uma com
sua importância e trajetórias particulares.
Os primeiros trilhos
em terras potiguares
A província do Rio Grande do Norte iria conhecer o real
significado da palavra progresso no século XIX, com a implantação da primeira
estrada de ferro do RN. Apesar de ter sido autorizada em 1873, a ferrovia só
começou a ser construída anos mais tarde, em 1878. Os trilhos que partiriam
rumo à Zona Agreste do estado começaram a ser erguidos em um local conhecido à
época como Nau de Refoles, hoje Passo da Pátria. A coordenação da obra ficou a
cargo do engenheiro Jason Rigbi.
Servindo como transporte de cargas e meio de locomoção para as comunidades vizinhas, a estrada de ferro trouxe mudanças significativas para o modo de vida provinciano potiguar. Inaugurados em 1881, o primeiro trecho ferroviário (Natal/Nova Cruz) e a Estação Central de Natal (localizada na Praça Augusto Severo, bairro da Ribeira) apresentaram o sentido da palavra mobilidade aos moradores da região. Anos mais tarde, em 1901, o trecho Natal/Nova Cruz seria arrendado pela "The Great Western of Brazil Railway Company", como aconteceu com outras estradas de ferro pelo país.
Se antes a população percorria grandes distâncias utilizando
tração animal, a empresa tornou possível cruzar os Estados do Rio Grande do
Norte, Paraíba e Pernambuco utilizando a ferrovia. Graças à construção da via
férrea que ligava Nova Cruz à Independência (PB). A "Great Western"
teve um papel fundamental para o desenvolvimento do comércio e das indústrias
locais à época.
A segunda Etapa da
Ferrovia no RN
Em meio a um cenário de desolação, causado pela grande seca,
surge a Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte (E.F.C.R.N.), no início
do século XX. A princípio, a ferrovia foi idealizada com o intuito de dinamizar
o comércio do RN. Capital e interior, que detinham os principais polos
econômicos da região, seriam interligados, viabilizando o ir e vir de cargas e
passageiros.
A lei que consentia a construção da ferrovia foi autorizada
em 1870, após reivindicações dos senhores de engenho. Mas foi em 1904 que os
trilhos começaram a ser traçados em direção a Ceará-Mirim, com a supervisão do
engenheiro Sampaio Correia.
O principal objetivo da empreitada era interiorizar a
economia do RN, viabilizando a ligação da capital com Ceará- Mirim, que detinha
60% da produção de cana-de-açúcar de todo o estado.
Consequentemente, os efeitos da grande seca seriam
minimizados, já que a construção serviria como frente de trabalho para o homem
do campo.
O trecho Natal/Ceará- Mirim foi inaugurado em 1906 pelo
então presidente eleito, Afonso Pena.
A ferrovia e a ponte
sobre o rio Potengi
Em 20 de abril de 1916 é construída a Ponte sobre o Rio Potengi, que viria a ser um momento marcante para a história da ferrovia e de Natal. Erguida em cima do estreito de Refoles, a ponte permitiu a passagem dos trens da Estação de Ferro Central, sendo a única ligação da capital com o Vale Açucareiro. Durante muitos anos, a ponte do Potengi foi considerada a maior do nortenordeste do Brasil, com uma extensão de 550 metros.
Após a construção da ponte, uma nova Estação Natal é
inaugurada, em 2 de junho de 1917, localizada na Travessa Aureliano Ribeiro, no
bairro da Ribeira. Juntamente com esta estação, foram inauguradas as oficinas
localizadas ao lado do prédio administrativo da E.F.C.R.N, na Esplanada Silva
Jardim, no bairro das Rocas.
Estrada de Ferro
Sampaio Correia
Através do decreto lei nº 1.475, de 3 de agosto de 1939, a "Great Western" foi arrendada pela Estação de Ferro Central do Rio Grande do Norte. A partir do dia 5 de novembro de 1939, a linha férrea, que ligava Natal ao município de Nova Cruz, passa a circular sob o comando da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte.
Futuramente, o sistema ferroviário passaria a se chamar Estrada de Ferro Sampaio Correia, em homenagem ao engenheiro responsável pelo projeto da via férrea. Em 1957, a Estrada Sampaio Correia tornouse uma das 18 ferrovias regionais que compunham a Rede Ferroviária Federal (RFFSA), sociedade de economia mista, controlada pelo Governo Federal e vinculada ao Ministério dos Transportes, transportando mais de 80 milhões de toneladas de carga por ano. O sistema ferroviário gerido pela RFFSA tinha papel fundamental para o desenvolvimento de diversos setores da economia brasileira.
Nos anos seguintes, a Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA)
juntamente com Empresa de Engenharia Ferroviária S.A. (ENGEFER) dariam origem à
Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), que passaria a realizar o
transporte de passageiros.
Você sabia que só era
possível atravessar a ponte sobre o Rio Potengi de trem?
Em um primeiro momento, a ponte foi construída apenas com o
intuito de viabilizar a travessia do trem sobre o Rio Potengi. Porém, com o
passar do tempo, uma alternativa foi criada sobre os trilhos para viabilizar a
passagem dos automóveis, que começavam a circular pela cidade.
A curiosidade dessa alternativa é que somente um carro
poderia passar sobre a ponte de cada vez.
Fonte: Portal CBTU
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