O
ex-primeiro-ministro de Israel Ariel Sharon morreu aos 85 anos neste sábado
após passar oito anos em coma depois de sofrer um derrame em 2006, no auge de
seu poder político. Sharon morreu no centro médico de Sheba, nos arredores de
Tel Aviv, após sua saúde ter-se deteriorado desde 1º de janeiro, quando teve
falência renal.
Como um dos últimos
líderes da geração dos que fundaram o Estado de Israel, em 1948, a carreira de
Sharon trespassa boa parte da história de 65 anos do Estado judeu.
Como um de seus
generais mais famosos, ele fez fama com suas táticas ousadas e por uma recusa
ocasional em obedecer ordens. Como político, ele ficou conhecido como "o
trator" - desdenhoso em relação a seus críticos, mas capaz de fazer as
coisas andarem.
Sharon deixou sua
marca na região por meio de invasão militar, a construção de assentamentos
judaicos em terras ocupadas e uma decisão chocante e unilateral de retirar
tropas e colonos israelenses da Faixa de Gaza em 2005.
Ele planejou a
invasão do Líbano por Israel em 1982 e perdeu seu cargo de ministro da Defesa
depois que uma milícia cristã aliada a Israel matou centenas de palestinos no
campo de refugiados palestinos de Sabra e Chatila, no oeste de Beirute,
atraindo o ultraje internacional.
Aos poucos, Sharon
conseguiu reabilitar sua carreira política. Durante anos, ele foi uma força
motriz no movimento pela construção de assentamentos na Cisjordânia e na Faixa
de Gaza, capturando áreas reivindicadas pelos palestinos para um Estado futuro.
Ele também iniciou a construção do polêmico muro da Cisjordânia.
Primeiramente eleito
primeiro-ministro em 2001 se beneficiando de sua fama de linha-dura, ele
liderou uma dura repressão contra a segunda intifada (levante) palestina, em
uma violência que deixou mais de 3 mil palestinos e 1 mil israelenses mortos.
Ele continua desprezado em boa parte do mundo árabe.
Mas em uma dramática
mudança de postura, Sharon liderou a retirada de Israel de Gaza em 2005,
removendo todos os soldados e colonos da faixa costeira depois de uma ocupação
militar de 38 anos.
A retirada de Gaza
levou Sharon a romper com o partido linha-dura Likud e a formar o centrista
Kadima. Seu novo partido se direcionava para a vitória nas eleições
parlamentares de 2006 quando ele teve o derrame.
Soldado
O
ex-primeiro-ministro nasceu na Palestina, em 1928, quando a região ainda estava
sob domínio britânico. Quando jovem, ele se juntou à organização clandestina
judaica Haganah e lutou na guerra árabe-israelense entre 1948 e 1949, logo
depois da criação de Israel.
Na década de 1950,
Sharon liderou uma série de operações militares com resultados trágicos. Uma
delas, em que 50 casas do vilarejo de Qibya foram explodidas, resultou em 69
mortes.
Sharon chegou à
patente de general de brigada e comandou uma divisão durante a Guerra dos Seis
Dias, em junho de 1967, na qual Israel conseguiu ocupar Jerusalém Oriental, a
Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
As medidas duras de
ocupação que Sharon implantou nesses territórios deram a muitos palestinos a
primeira ideia de como agia o homem que seria visto por eles como o grande
inimigo.
O primeiro contato do
militar com a política ocorreu em 1973, quando ele foi eleito para o Knesset, o
Parlamento de Israel. Mas Sharon renunciou um ano depois, para se transformar
no assessor de segurança do então primeiro-ministro Yitzhak Rabin. Em 1977, ele
foi reeleito para o Parlamento.
Invasão desastrosa
Na época em que
ocupou o cargo de ministro da Defesa, em 1982, ele arquitetou a desastrosa
invasão ao Líbano.
Sem falar
explicitamente ao então primeiro-ministro, Menachem Begin, ele enviou os
soldados israelenses para Beirute em um ataque que resultou na expulsão da
Organização para Libertação da Palestina (OLP), de Yasser Arafat, do território
libanês.
Até então, a OLP
tinha no Líbano uma base para expansão da organização, onde concentrava
operações e organizava a luta armada contra Israel.
Após dois meses, 14
mil membros da OLP, além de militantes sírios, haviam deixado a capital
libanesa. Mas dezenas de milhares de palestinos permaneceram, reunidos em
grandes campos de refugiados como o de Sabra e Shatila.
Quebrando uma
promessa que tinha feito aos americanos, Sharon enviou suas tropas ao oeste de
Beirute, alegando que 2 mil militantes da OLP ainda estavam escondidos nos
campos.
Para evitar baixas
nas forças israelenses, ele ordenou que milicianos cristãos libaneses
invadissem Sabra e Chatila (sob o controle de Israel).
Da parte dos
milicianos cristãos, o ataque foi uma retaliação ao assassinato do presidente
cristão Bachir Gemayel, dois dias antes, que considerava os refugiados
palestinos "população excedente". Até hoje não se sabe ao certo
quantos morreram – acredita-se que o número possa ter chegado a 3,5 mil.
Em 1983, Sharon foi
afastado do Ministério da Defesa por um tribunal israelense que investigou a
invasão do Líbano e determinou que ele era indiretamente responsável pelas
mortes nos campos de refugiados.
Sharon argumentou que
não era possível prever os desdobramentos sangrentos da entrada das milícias
nos campos de refugiados.
A volta
Para a maioria dos
políticos, uma condenação como essa significaria o fim da carreira. Mas Sharon
continuou sendo uma figura popular na direita israelense, e outra oportunidade
surgiu para ele.
Como ministro da Habitação,
no início dos anos 1990, ele liderou o grande aumento dos assentamentos
israelenses na Cisjordânia e Faixa de Gaza, o maior desde a ocupação em 1967.
Depois de a coalizão
de centro-direita de Binyamin Netanyahu chegar ao poder em 1996, o novo primeiro-ministro
israelense não aguentou a pressão e incluiu o ex-general em seu gabinete de
governo. Em 1998, ele foi designado o novo ministro do Exterior, com elogios de
Netanyahu.
Com a vitória de Ehud
Barak, do Partido Trabalhista, que assumiu o governo em 1999, Sharon tornou-se
líder do Likud, conservador e de oposição a Barak.
Posteriormente, o
filho de Sharon, Omri, foi considerado culpado de falso testemunho e
falsificação de documentos depois de um inquérito de corrupção que investigou a
campanha de Sharon para liderar o Likud. Sharon sempre negou envolvimento e
nunca foi formalmente acusado.
Segunda intifada
Ainda como líder do
Likud, Sharon fez uma visita polêmica em setembro de 2000 à Esplanada das
Mesquitas, em Jerusalém. O local é considerado sagrado tanto para muçulmanos
como para os judeus, que o chamam de Monte do Templo.
A visita,
interpretada pelos palestinos como uma provocação, é considerada um dos
acontecimentos que desencadearam a segunda intifada (ou revolta) palestina.
Críticos afirmam que
Sharon sabia que a visita iniciaria uma onda de violência e apostou que o
público israelense apoiaria um líder duro como ele, que saberia enfrentar a
questão com firmeza.
E Sharon acertou. Em
6 de fevereiro de 2001, ele conseguiu uma vitória esmagadora nas eleições,
tornando-se primeiro-ministro com a promessa de conseguir "segurança e paz
verdadeira". Ele ainda insistiu que não estava comprometido com as
negociações anteriores com os palestinos.
O ex-presidente
americano George W. Bush (2001-2009) afirmou que Sharon era "um homem de
paz", mas os anos em que o político israelense liderou o país foram
marcados pelo recuo nas negociações com os palestinos.
O muro
Depois de uma série
de ataques suicidas de militantes palestinos em Israel, que começaram nos anos
1990 e se estenderam pela primeira década do século 21, Sharon iniciou o
projeto de construção do muro da Cisjordânia, alegando que a barreira
aumentaria a segurança de Israel.
No entanto, ele
determinou a retirada israelense da Faixa de Gaza e o desmantelamento de quatro
assentamentos na região norte da Cisjordânia, para tentar enfrentar a crescente
hostilidade dos israelenses ao seu governo. Depois dessas medidas, Sharon
descartou outras retiradas unilaterais.
Em meio à crescente
dissidência dentro do Likud por causa da retirada da Faixa de Gaza, Ariel
Sharon saiu do partido em 2005, e, juntamente com outros aliados, fundou o
Kadima.
Em dezembro de 2005,
ele sofreu um leve derrame, seguido de um mais agudo, no ano seguinte, que o
deixou em estado vegetativo. Ele foi substituído no governo por seu vice, Ehud
Olmert.
Ao lançar seu
partido, Sharon convenceu diversas figuras centristas a deixar os partidos
Trabalhista e Likud e se unir ao Kadima. Hoje, porém, a agremiação não tem um
substituto à altura de Sharon - e possui apenas duas cadeiras no Parlamento
israelense.
Fonte: Portal IG.COM
Com AP, Reuters e BBC
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