sábado, 20 de abril de 2013

Noturno: Antero de Quental


Espírito que passas, quando o vento 
Adormece no mar e surge a Lua, 
Filho esquivo da noite que flutua, 
Tu só entendes bem o meu tormento... 

Como um canto longínquo - triste e lento- 
Que voga e subtilmente se insinua, 
Sobre o meu coração que tumultua, 
Tu vestes pouco a pouco o esquecimento... 

A ti confio o sonho em que me leva 
Um instinto de luz, rompendo a treva, 
Buscando, entre visões, o eterno Bem. 

E tu entendes o meu mal sem nome, 
A febre de Ideal, que me consome, 
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém! 


Antero de Quental, in "Sonetos"

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