Dilma Rousseff abraça o ex-presidente Lula durante evento em Paris
Divulgada nesta terça-feira pelo
jornal O Estado de São Paulo, a acusação de Valério de que Lula avalizou os
empréstimos que alimentaram o mensalão levou partidos opositores e o presidente
do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, a sugerir que a PGR
investigue o caso.
A denúncia vem à tona quatro dias
após a Polícia Federal (PF) indiciar por quatro crimes a ex-assessora da
Presidência Rosemary Noronha, nomeada por Lula em 2003. Ao lado de 23 pessoas,
Rosemary é acusada de participar de um esquema de corrupção no governo federal,
o que ela nega.
Trechos da investigação da PF
sugerem que Rosemary se valia de sua proximidade com Lula para influenciar
nomeações em agências federais. O ex-presidente, que está na França, não
comentou a investigação da PF. Quanto à última acusação de Valério, disse em breve
comentário a jornalistas que se trata de "mentira".
Também na França, a presidente
Dilma Rousseff defendeu Lula ao ser questionada sobre o depoimento de Valério.
"É sabida a minha admiração,
o meu respeito e minha amizade pelo presidente Lula. Portanto, eu repudio todas
as tentativas, e esta não será a primeira vez, de tentar destituí-lo da imensa
carga de respeito que o povo brasileiro lhe tem."
Aval e gastos pessoais
Em depoimento voluntário à PGR em
setembro, Valério – recentemente condenado pelo Supremo a 40 anos de prisão –
afirmou que Lula avalizou os empréstimos que irrigaram os pagamentos ilegais a
congressistas. Os pagamentos estão no centro da denúncia do mensalão.
Segundo o Estado de São Paulo,
Valério procurou a PGR para, em troca do novo depoimento, tentar obter proteção
e reduzir sua pena.
Na ocasião, ele também afirmou
ter repassado, em 2003, dinheiro para "gastos pessoais" de Lula. O
empresário disse ter feito um depósito de R$ 100 mil na conta da empresa Caso,
do ex-assessor presidencial Freud Godoy, valor que se destinaria ao então
presidente.
Em seu depoimento, Valério também
disse ter sofrido ameaças de morte de Paulo Okamotto, ex-integrante do governo
que hoje dirige o instituto Lula. O empresário afirmou ainda que seus advogados
no julgamento do mensalão são pagos pelo PT. Okamotto e o PT negaram as
informações.
Após a publicação da reportagem,
o PSDB disse que apresentaria um requerimento para convocar Valério para um
depoimento no Senado. O pedido deverá ser analisado na próxima semana, mas
mesmo opositores avaliam que há poucas chances de ele ser aprovado, dada a
maioria governista na Casa.
O PSDB e o PPS cobraram ainda que
a PGR abra um inquérito para analisar as denúncias de Valério. Em entrevista a
jornalistas, o presidente do STF, Joaquim Barbosa, também disse ser favorável à
investigação.
Já o presidente do PT, Rui
Falcão, saiu em defesa de Lula. Em nota, ele disse lamentar "o espaço dado
pela imprensa para as supostas denúncias assacadas pelo empresário Marcos
Valério contra o partido e contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva".
"Caso essas declarações
efetivamente tenham sido feitas em uma tentativa de 'delação premiada',
deveriam ser tratadas com a cautela que se exige nesse tipo de caso",
disse Falcão.
Segundo ele, as afirmações de
Valério "refletem apenas uma tentativa desesperada de tentar diminuir a
pena de prisão" que ele recebeu do STF.
Condenação
Nos últimos meses, o STF condenou
Valério no julgamento do mensalão pelos crimes de corrupção ativa, peculato
(uso de agente público para desviar recursos), formação de quadrilha, lavagem
de dinheiro e evasão de divisas.
Entre todos os 25 réus condenados
no julgamento, Valério obteve a pena mais elevada: 40 anos de prisão, além de
multa de R$ 2,8 milhões.
Na denúncia apresentada ao
Supremo, a PGR classificou Valério como o "principal operador" do
mensalão. Segundo a PGR, o empresário intermediou as transações financeiras que
teriam permitido ao PT realizar pagamentos a congressistas da base aliada
durante o primeiro mandato de Lula.
Em setembro, após a revista Veja
publicar que Valério teria dito a pessoas próximas que Lula sempre soube do
mensalão, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou que
eventuais declarações do empresário deveriam ser tratadas "com cautela".
"Marcos Valério é uma pessoa
que, ao longo de toda participação dele nesse processo, deixou muito claro que
é um jogador, e é preciso ver então que tipo de jogo está sendo feito",
disse o procurador.
Gurgel não se pronunciou sobre o
depoimento de Valério à PGR, em setembro, nem sobre os pedidos de abertura de
um inquérito para investigar eventual participação de Lula no mensalão.
Fonte: BBC Brasil
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