Após 23 anos e dois meses no poder, o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira, divulgou carta nesta segunda-feira na qual anunciou sua saída da entidade e também do COL (Comitê Organizador Local) da Copa do Mundo de 2014. O vice-presidente mais velho da CBF, José Maria Marín, ficará no cargo da duas entidades até abril de 2015, quando ocorre a assembleia geral da CBF para avaliação das contas de 2014.
Marín, que leu a carta de Teixeira em coletiva, se emocionou a falar do ex-presidente: "Acompanhei a Copa do Mundo de 1950 [no Brasil] pelo rádio, e quero dar meu testemunho como ex-atleta e brasileiro. O Ricardo Teixeira tornou realidade o sonho de milhões de brasileiros. Eu chorei naquele dia que perdemos para o Uruguai, e agora temos que fazer justiça. O grande responsável por dar esse oportunidade ao Brasil é o Ricardo Teixeira. E presto solidariedade a outra pessoa que aprendi a admirar e respeitar há muito tempo, o João Havelange. Há pessoas pelas quais temos que ter ao menos respeito. Se não tem gratidão, ao menos respeito tem que ter", afirmou, emocionado.
No comunicado divulgado por Teixeira, o dirigente deixou um "muito obrigado" à torcida brasileira, lembrou os títulos conquistados pela seleção desde que ele assumiu o cargo e afirmou que todas as acusações de corrupção contra ele são "injustas". "Fiz nesses anos o que estava ao meu alcance, sacrificando a saúde. Fui criticado nas derrotas e subvalorizado nas vitórias. Deixo definitivamente a presidência da CBF com a sensação de dever cumprido", escreveu.
Teixeira foi 18º presidente da Confederação Brasileira de Futebol, e estava no cargo desde 16 de janeiro de 1989. Seu 5º mandato consecutivo terminou em 2007, mas havia sido foi prolongado (sob acordo) até o final da Copa do Mundo de 2014. O ex-presidente tinha 0,01% da sociedade do COL (99,9% são da CBF), porcentagem que agora é de Marín.
Organizadora da Copa de 2014 no Brasil, a Fifa (Federação Internacional de Futebol e Associados) ainda não se pronunciou sobre a saída de Ricardo Teixeira. Em contato com a reportagem do iG, a assessoria de imprensa da entidade disse que deverá divulgar uma nota em breve sobre o caso. Como presidente do COL, Teixeira tinha obrigações como interlocutor do país com a entidade máxima do futebol. Sem trânsito no Planalto desde 2011, o ex-presidente da CBF e do COL, entretanto, já estava isolado das principais decisões do Governo Federal e da Fifa em relação ao Mundial.
Queda anunciada
A saída de Ricardo Teixeira foi arquitetada nos últimos meses. Sem apoio da Fifa, que já trata da Copa do Mundo de 2014 diretamente com o Governo Federal, e sem diálogo com a presidenta Dilma Rousseff, o cartola sofreu com novas denúncias de corrupção.
Envolvido, segundo a "BBC", em um caso de corrupção dentro da Fifa, que está sendo investigado na Suíça, o brasileiro tem seu nome ligado agora a um escândalo no Brasil. Documentos revelados pela "Folha de S. Paulo" apontaram que o cartola tem ligações com a empresa que superfaturou o amistoso da seleção brasileira contra Portugal, em 2008, no Distrito Federal. O caso foi investigado pela Polícia Civil de Brasília e está na Justiça Federal.
Em dezembro, Ricardo Teixeira chegou a pedir uma licença do cargo de presidente da CBF e do COL (Comitê Organizador Local da Copa do Mundo). Durante o período deixou de comparecer ao Mundial Interclubes e ao prêmio de melhor jogador do mundo, importantes eventos da Fifa, onde o dirigente já não goza de prestígio. Nas duas ocasiões, foi representado por José Maria Marin, que o substituiu de forma definitiva por ser o vice-presidente mais velho da entidade.
Fifa foi um sonho
Todo poderoso após a confirmação do Brasil como sede da Copa de 2014, em 2007, Teixeira chegou a articular uma provável candidatura a presidência da Fifa para 2015. O plano, entretanto, perdeu força nos últimos meses, quando caiu em desgraça com o atual número 1 da entidade máxima do futebol, Joseph Blatter, ao apoiar Mohamed Bin Hammam nas eleições do ano passado. O ex-presidente da Confederação Asiática de Futebol desistiu da candidatura após revelações de que comprou votos para o pleito.
Durante o período eleitoral na Fifa, Teixeira voltou atrás e passou a apoiar Blatter. O movimento não foi suficiente para melhorar a relação com o presidente da entidade, que, com a desistência de Bin Hammam, venceu a eleição sem nenhum adversário.
Isolado no Planalto
À frente da CBF desde 1989, Ricardo Teixeira já viveu períodos de isolamento e de aproximação com o Governo Federal. Durante o governo Lula foi aliado do ex-presidente e era recebido pelo alto escalão do Planalto. Com Dilma Rousseff, entretanto, não tem o mesmo trânsito. Desde o ano passado não consegue uma audiência com a presidenta, que já se reporta diretamente à Fifa para tratar dos assuntos referentes a Copa do Mundo de 2014.
A última aparição pública de Ricardo Teixeira foi no anúncio de Ronaldo como membro do conselho do COL em novembro de 2011. Desde então, o ex-jogador virou a imagem do comitê. A imagem do ex-jogador, ídolo mundial ligada ao Mundial agrada o Planalto. Nos bastidores, entretanto, Teixeira ainda tinha voz e definia o que deve ser feito pelo “Fenômeno”.
Fonte: IG.COM
Nenhum comentário:
Postar um comentário