A conclusão de um acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE) é mais urgente do que nunca para o Brasil, que corre o risco de ficar isolado no cenário mundial se o bloco europeu fechar o tratado de livre comércio que está negociando com os Estados Unidos, afirmam analistas ouvidos pela BBC Brasil.
"O Brasil será a única
grande economia do mundo sem um acordo de livre comércio com alguma outra
grande economia", observou Michael Emerson, economista do Centro para
Estudos de Política Europeia (CEPS), um grupo de pressão com sede em Bruxelas.
"Isso deveria servir como um
alerta para o país que, se não se mexer para fechar um acordo semelhante,
ficará isolado no cenário comercial mundial."
As negociações entre o Mercosul e
a UE se arrastam desde 1995 e as duas partes se comprometeram a dar um passo
decisivo em dezembro, com um novo intercâmbio de propostas.
No entanto, tanto Emerson como
Ulrich Schoof, analista da Fundação Bertelsmann, um grupo de pressão
independente baseado na Alemanha, acreditam que a iniciativa será prejudicada
pelas negociações entre as autoridades europeias e americanas.
"A UE precisa concluir
rapidamente acordos comerciais com sócios suficientemente grandes e bem conectados
com o resto do mundo para incentivar seu crescimento e sustentar suas políticas
macroeconômica e fiscal", analisou Schoof em entrevista à BBC Brasil.
"Nesse contexto, sua energia
é absorvida pelas negociações com Japão, Taiwan e Estados Unidos, que têm mais
probabilidades de dar certo, e se reduz o entusiasmo com respeito ao
Mercosul", afirmou, recordando as reticências de Argentina em abrir seus
mercados para os europeus.
Maior área de livre comércio do mundo
Um acordo entre a UE e os Estados
Unidos - que juntas respondem por 49 por cento do PIB global e 31% dos
intercâmbios comerciais - criaria a maior área de livre comércio do mundo e
teria um impacto inevitável sobre todos os demais países.
Mais que eliminar as tarifas
sobre exportações, as duas maiores potências econômicas internacionais buscam a
harmonização ou o reconhecimento mútuo de normas e padrões técnicos e
sanitários para todos os produtos que comercializam.
Essa medida por si — que
permitirá uma redução de custos e um aumento do fluxo comercial — responderia
por 81% do benefício gerado pelo tratado, estimado em 275 bilhões de euros
anuais. Os outros 19% viriam da eliminação das tarifas.
Tanto a UE como os Estados Unidos
argumentam que a iniciativa também fortaleceria o comércio internacional como
um todo, já que ambos são parceiros comerciais de praticamente todos os países
do mundo.
Com a harmonização, os países
terceiros passariam a ter que adaptar seus produtos a um único conjunto de
normas e padrões ao exportar tanto para o bloco europeu como para os
americanos, o que reduziria burocracia e custos.
Impacto negativo
No entanto, os analistas ouvidos
pela BBC Brasil acreditam que para o Brasil esse benefício seria mínimo
comparado ao prejuízo causado pelo aumento da concorrência em dois de seus
maiores mercados.
Isso porque o maior responsável
pelo encarecimento das exportações nacionais para a UE e os Estados Unidos são
as tarifas comerciais, em geral mais elevadas que as impostas mutuamente pelos
dois gigantes, e não a adaptação a normas e padrões de cada mercado.
Um estudo da Fundação Bertelsmann
calcula que as exportações brasileiras diminuiriam 29,72% para os Estados
Unidos e 9,4% para a UE, resultando em uma queda de 2,1% no PIB per capta real
brasileiro em um prazo de entre 15 e 20 anos.
Caso o tratado comercial entre a
UE e os Estados Unidos se limite à eliminação de barreiras tarifárias entre os
dois países, sem a harmonização de normas e padrões, a redução das exportações
brasileiras seria de apenas 2,24% para os Estados Unidos e de 3,71% para a UE.
No entanto, sob esse cenário, o
aumento do fluxo comercial entre os Estados Unidos e a UE poderia levar a uma
caída de preços dos produtos nacionais no mercado brasileiro, o que resultaria
em um aumento de 0,5% no PIB per capta real para o Brasil, explicou à BBC
Brasil Sybille Lehwald, economista da Fundação Bertelsmann.
Imagem: formiche.net
Fonte: BBC Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário