Diógenes de Sínope (em grego
antigo: Διογένης ὁ Σινωπεύς; Sínope, 404 ou 412 a.C.[1] – Corinto, c. 323
a.C.[2]), também conhecido como Diógenes, o Cínico, foi um filósofo da Grécia
Antiga. Os detalhes de sua vida são conhecidos através de anedotas (chreia),
especialmente as reunidas por Diógenes Laércio em sua obra Vidas e Opiniões de
Filósofos Eminentes.
Diógenes de Sínope foi exilado de
sua cidade natal e se mudou para Atenas, onde teria se tornado um discípulo de
Antístenes, antigo pupilo de Sócrates. Tornou-se um mendigo que habitava as
ruas de Atenas, fazendo da pobreza extrema uma virtude; diz-se que teria vivido
num grande barril, no lugar de uma casa, e perambulava pelas ruas carregando
uma lamparina, durante o dia, alegando estar procurando por um homem honesto.
Eventualmente se estabeleceu em Corinto, onde continuou a buscar o ideal cínico
da autossuficiência: uma vida que fosse natural e não dependesse das luxúrias
da civilização. Por acreditar que a virtude era melhor revelada na ação e não
na teoria, sua vida consistiu duma campanha incansável para desbancar as
instituições e valores sociais do que ele via como uma sociedade corrupta.
Segundo a tradição, Diógenes
vivia a perambular pelas ruas na mais completa miséria até que um dia foi
aprisionado por piratas para, posteriormente, ser vendido como escravo. Um
homem com boa educação chamado Xeníades o comprou. Logo ele pôde constatar a
inteligência de seu novo escravo e lhe confiou tanto a gerência de seus bens
quanto a educação de seus filhos.
Diógenes levou ao extremo os
preceitos cínicos de seu mestre Antístenes. Foi o exemplo vivo que perpetuou a
indiferença cínica perante os valores da sociedade da qual fazia parte.
Desprezava a opinião pública e parece ter vivido em uma pipa ou barril. Reza a
lenda que seus únicos bens eram um alforje, um bastão e uma tigela (que
simbolizavam o desapego e autossuficiência perante o mundo), sendo ele
conhecido também, talvez pejorativamente como kinos, o cão, pela forma como
vivia.
A felicidade - entendida como
autodomínio e liberdade - era a verdadeira realização de uma vida. Sua
filosofia combatia o prazer, o desejo e a luxúria pois isto impedia a
autossuficiência. A virtude - como em Aristóteles - deveria ser praticada e
isto era mais importante que teorias sobre a virtude.
Diógenes é tido como um dos
primeiros homens (antecedido por Sócrates com a sua célebre frase "Não sou
nem ateniense nem grego, mas sim um cidadão do mundo.") a afirmar,
"Sou uma criatura do mundo (cosmos), e não de um estado ou uma cidade
(polis) particular", manifestando assim um cosmopolitismo relativamente
raro em seu tempo.
Diógenes parece ter escrito
tragédias ilustrativas da condição humana e também uma República que teria
influenciado Zenão de Cítio, fundador do estoicismo. De fato, a influência
cínica sobre o estoicismo é bastante saliente.
Provavelmente, Diógenes foi o
mais folclórico dos filósofos. São inúmeras as histórias que se contavam sobre
ele já na Antigüidade.
É famosa, por exemplo, a história
de que ele saía em plena luz do dia com uma lanterna acesa procurando por
homens verdadeiros (ou seja, homens auto-suficientes e virtuosos).
Igualmente famosa é sua história
com Alexandre, o Grande, que, ao encontrá-lo, ter-lhe-ia perguntado o que
poderia fazer por ele. Acontece que devido à posição em que se encontrava,
Alexandre fazia-lhe sombra. Diógenes, então, olhando para a Alexandre, disse:
"Não me tires o que não me podes dar!" (variante: "deixe-me ao
meu sol"). Essa resposta impressionou vivamente Alexandre, que, na volta,
ouvindo seus oficiais zombarem de Diógenes, disse: "Se eu não fosse
Alexandre, queria ser Diógenes."
Outra história famosa é a de que,
tendo sido repreendido por estar se masturbando em público, simplesmente
exclamou: "Oh! Mas que pena que não se possa viver apenas esfregando a
barriga!"
Outra história ainda é a de que
um dia Diógenes foi visto pedindo esmola a uma estátua. Quando lhe perguntaram
o motivo de tal conduta ele respondeu "por dois motivos: primeiro é que
ela é cega e não me vê, e segundo é que eu me acostumo a não receber algo de
alguém e nem depender de alguém."
Precedente do
anarquismo
Nas reflexões desenvolvidas pelo
filósofos cínicos pode-se reconhecer importantes princípios do anarquismo ainda
na Grécia Antiga.[4] Segundo o historiador inglês Donald R. Dudley, em
particular no pensamento de Diógenes podem ser identificados muitos elementos
presentes no movimento anarquista da contemporaneidade.[5]
Em seu artigo "Aristóteles e
o Anarquismo" (Aristotle and Anarchism) o filósofo estadunidense David
Keyt afirma que as sementes do anarquismo filosófico podem ser mais facilmente
encontradas nas ideias de Diógenes de Sínope do que nas de Sócrates. Este mesmo
autor confere também a Diógenes a defesa do gérmen do proto-internacionalismo
na Antiguidade, uma vez que o próprio Diógenes, refutando todas as identidades
vinculadas as cidades estados e povos antigos, e negando assim a
imprescindibilidade da pólis (apolis), se definia como cidadão do cosmos
(kosmopolitê).[6] O peso do pensamento ácrata de Diógenes na filosofia da
Antiguidade faz este autor considerar a hipótese de Aristóteles estar em parte
reagindo e se contrapondo às ideias de Diógenes quando faz sua defesa da
pólis.[7]
Em relação a temática do
casamento Diógenes refuta o modelo familiar grego afirmando que as esposas
deveriam ser mantidas em comum, não reconhecendo nenhuma legitimidade em
qualquer união baseada na coerção, mas somente nas relações que se baseiem na
persuasão entre pares.[8]
Keyt apresenta ainda a
perspectiva de Diógenes em relação à escravidão. Sua crítica à escravidão
estaria focada no caráter de voluntarismo da parte dominada em relação à
dominante: escravos sentem necessidade de mestres..[8] Em relação a este tema a
posição de Diógenes se aproxima das reflexões apresentadas por Étienne de La
Boétie sobre a servidão voluntária. Além de ser outro importante precedente do
anarquismo no final do medievo, La Boétie fora a seu tempo tradutor de diversos
escritos relacionados aos cínicos, adotando também a metodologia cínica baseada
na inventividade, no uso da ironia, em jogos de palavras e paradoxos.[9]
"Na casa de um rico não há
lugar para se cuspir, a não ser em sua cara."
—Diógenes de Sínope
Fonte: Wikipédia
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